Esta é uma história de superação, garra e sucesso. Na 6ª série, meus colegas e eu jogávamos xadrez (que é um esporte) todo dia na sala, nos intervalos. Quando a gente era interrompido pelas aulas, eram vários os tabuleiros embaixo das carteiras, esperando pela continuação da partida. De uns 15 que jogavam, eu não era o melhor, talvez o 3º ou 4º.
xadrez é guerra
Como todo ano, aconteciam as Olimpíadas internas e tinha um limite de atletas por sala. Se não me engano, eram 4 ou 5 pro esporte da mente (xadrez, dã). Cada um jogava 5 partidas. Se você ganhasse, levava um ponto; se empatasse, levava 0,5; e, se perdesse, levavam sua dignidade. Você pode estar pensando que não existe empate em xadrez, mas eu vou provar que isso é possível. E duas vezes.
Logo na primeira rodada, eu peguei a única menina do torneio, que era 1º ano. Pensei: "massa, a única menina, vai ser tranquilo". Dez segundos depois: "se ela é a única menina, deve jogar muito e vai me mandar pra casa pra jogar pokémon, droga".

Na segunda rodada, enfrentei um gordinho da 8ª série. Pra quem era 6ª, essa diferença equivalia a uns 10 anos. O jogo tava muito disputado, os dois capturando muitas peças. Numa hora, não tinha muitas peças e o jogo tinha ficado travado. Era como brincar de pega-pega num salão só com uma pilastra no meio: por mais que um corra atrás do outro, nunca vão se alcançar. Nossa, eu devia narrar jogos de xadrez.
Novamente, eu empatei, mas dessa vez com um garoto do 1º ano. Ou seja, 15 anos mais velho. Só que a situação não estava tão ruim, já que, ao final dessa terceira rodada, meus amigos - melhores do que eu - já tinham perdido uma partida ou mais cada. O sonho da medalha começava a se tornar plausível. Ui.
As estatísticas esperavam que eu empatasse o quarto jogo, mas venci um moleque da 8ª série. Tinha uma cara de futuro chefe do tráfico que era uma beleza. Eu ia para a última roda invicto. Tava com o capeta enxadrista no sangue.
Se as estatísticas me deram aquela folga, não me ajudaram muito na última partida. Novamente, peguei outro aluno da 8ª série, mas ele simplesmente tinha o apelido de Roque. Eu não sei se era por causa do nome de uma jogada, ou se era porque ele tinha o cabelo igual ao de Roque, aquele assistente de Silvio Santos. Vai ver era pelos dois motivos. Só sei que ele era o melhor do colégio e acabei perdendo. Mas, na contagem final, eu tinha ficado em 3º. É BRONZE! Fui pra galera, mas não tinha galera alguma. Só tinha um bando de garotos em crescimento que tinham passado as últimas 4 ou 5 horas jogando xadrez. Guga, um primo que tinha ido comigo e tinha 8 anos, cresceu uns 5 centímetros, só pra você ter uma ideia.
Fui no ginásio receber minha bela medalha. Ironicamente, após ganhar e empatar com gente de pelo menos 2 séries acima, eu fiquei atrás de dois alunos da quinta série. Puta mundo injusto.