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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Resoluções de ano novo


Resoluções de ano novo são como broncas de mãe: sempre a mesma coisa e não adiantam nada, porque a galera sempre tá fazendo besteira. Eu acho que a questão não é você se organizar e traçar objetivos, isso qualquer pessoa deveria fazer sempre na vida. O problema é quem acha que o mundo vai acabar dia 31/12 e recomeçar dia 1º de janeiro. Que basta pular 7 ondas, pedir pra "Fulano de Oxum" jogar uma água maluca em você ou colocar caroços de uva na carteira que seus problemas serão resolvidos.
Eu mesmo já coloquei - por sugestão de uma tia-avó - caroços na carteira. A única resolução que isso trouxe foi ter me obrigado a comprar uma carteira nova. Também já determinei como meta aprender a tocar saxofone. Escrever num papel ajuda bastante. Nesse caso, me ajudou a parar de ser bichinha e ter metas de homem. Afinal, saxofone só serve pra duas coisas: trilha sonora de filme pornô e tocar em formaturas. A cada festa, Kenny G fica mais rico. Desafio quem nunca ouviu essa música em nenhuma celebração a comentar aqui. Essa tocou na minha Formatura do ABC, com 7 anos, e na da faculdade, aos 23. 
Quem pula ondas e guarda caroços de uva certamente deve acreditar em horóscopo. Eu não consigo compreender como Marte se alinhar com Saturno pode influenciar minha vida. Se Marte se chocar contra a Terra é que eu posso começar a acreditar. E outra: só porque determinadas pessoas nasceram em datas próximas significa que elas são muito parecidas ou iguais? Então, só há 12 tipos de personalidade no mundo? Que loucura.
Por isso, eu vou ser bem legal e colocar algumas sugestões de itens para as pessoas seguirem no ano que se aproxima:






1- Parar de andar na esquerda a 40 km/h
Ou minha cidade concentra o maior número de barbeiros por metro quadrado do mundo ou isso acontece também em outros lugares e eu devo fazer uma camisa e abraçar ainda mais essa ideia. Minha mãe quase derrubou um cara de moto que fazia isso. Foi massa, mas tive um medo da porra.


2- Parar de ouvir músicas bregas/ruins dizendo que é engraçado
Quando você coloca "gata da academia" no carro, à beira da piscina e em qualquer festa pelo menos 5 vezes, você não acha a música engraçada, você gosta dessa porcaria. E não to falando do meu irmão, ele acha engraçado e gosta. Falo das pessoas sem personalidade.

3- Parar de jogar lixo na rua
Na primeira série, um menino de outra turma entrou no meio da aula e pediu pra cantar uma pequena canção de sua autoria. Era assim: "Jogue lixo no lixo, não jogue lixo no chão, vamos deixar esta escola bonita como esta canção". O nome dele era Fiuk. Brincadeira, era meninO. Eu levei isso pra sempre e transformei em tapas na cabeça ou buzinadas e um grito de "seu porco!". Tá, nunca gritei pra ninguém, mas já dei cada olhada, mêu...


4- Atendentes de telemarketing
Aqui não há nenhuma necessidade de "parar" algo, é de exterminar mesmo. Um exemplo foi esse. Mas ele pelo menos só era tapado, o pior é quando ligam do banco. Até aí tudo bem, normal. Só que quando perguntam "se o senhor poderia informar o motivo do não-pagamento", isso me irrita. "Isso é irrelevante", eu respondo. Sim, vou fazer um curso de respostas-baixaria em 2011, que resposta...


5- Parar de usar expressões de retardado
"Ninguém merece", "aloka", "ficadica", "a festa foi mara" são autoexplicativas. Eu realmente queria conhecer quem criou alguma delas. Não, eu não queria.


6- Parar de falar "vem, 2011"...
... quando ainda estamos em novembro é algo para parar e se pensar. 


7- Parar de usar pedaços pequenos de cebola quando você sabe que eu vou comer na sua casa
Quase vomitei agora.


8- Parar de ouvir música alta e ruim no celular quando você não me conhece e tá na sala de espera de algum lugar
Quem gosta de Pink Floyd ou Chico Buarque não sai por aí esfregando na cara das pessoas. Pensem nisto.


9- Parar de falar "ah, o verão" 
Além de eu odiar essa expressão, o que me irrita é gente que fala isso e mora no Nordeste. SÓ HÁ VERÃO no Nordeste. Fale isso e vá andar no centro vestindo uma blusa preta, vá.


Acho que é só, Feliz Ano Novo, vocês que me acompanharam neste ano. OBRIGADUUUUU!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Corredorzinho

Corredorzinho é um eufemismo, uma denominação afetuosa para o temido "corredor da morte". Todos aqueles que participavam do jogo ficavam ao longo de um corredor de guris formado ao longo da quadra de futsal. A vítima tinha que atravessar de uma trave à outra com o menor número de hematomas possível.
Mas esse não era o único elemento da brincadeira. Na época de colégio, a generosidade e a ternura das crianças são algo que até hoje resgato em minhas memórias, especialmente quando animado por esse espírito natalino do momento. O corredorzinho era a punição alternativa de uma brincadeira chamada "três beijinhos". Esta, por sua vez, tinha como principal mandamento que, toda vez que os participantes se sentassem, teriam que pedir licença. Se não pedissem, teriam que dar três beijos numa menina que os outros escolhessem. Como o altruísmo não fazia parte do vocabulário de ninguém, a escolha era sempre uma das meninas, digamos assim, desprovidas de uma beleza externa. 


E já que a falta de noção era a primeira regra (afinal, olha as coisas que a gente topava), ninguém queria dar os beijos. E nem eram na boca, eram na bochecha. A juventude era mesmo genial: "Não, eu não quero dar três beijos na face de uma semelhante e perder até a chance de começar uma bela história de amor". Nem passava pela nossa cabeça que muitas evoluem, quando maiores. No Manual de Sobrevivência do ginásio, o que valia era o presente. E só.
Em algum momento da brincadeira deslizes seriam cometidos. E então, um bando de garotos sedentos por violência fariam justiça com as próprias mãos. Pra falar a verdade, não sei como nenhum colega não levou nada disso pra vida. Porque deixar de dar meros beijos numa menina pra encarar socos e chutes, enquanto outros sonhavam em aplicar esses mesmos golpes é bem deturpado. Se bem que, no meu caso, isso pode explicar muita coisa kkkkk.
Algumas partidas foram memoráveis. Acho que a maior fatalidade que vi foi quando um amigo, que estava quase alcançando a trave, tropeçou e quebrou o braço. Fora isso, as sequelas foram mais psicológicas. Se não saía sangue, tava valendo. 
Tinha um outro colega que detém o recorde escolar de apanhar de todos os meninos na sua turma. Vamos apenas chamá-lo de b-b-beiço, porque ele era beiçudo e gago. Ele era tão legal que o que acontecia era o seguinte: ele participava com, digamos, 12 outros colegas. Quando ele não pedia licença e ia para o corredorzinho, milagrosamente apareciam 30 meninos esperando pra espancá-lo. Acho que até de outras turmas. Mas ele sempre sobrevivia.
Acabou sobrando pra mim também. Mas não aconteceu nada demais. Acho que todo mundo, em algum momento da escola, já pegou carona de ambulância.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Se meu fusca falasse...

Meu irmão é um negociante nato. Até demais. É só ele aparecer na porta do meu quarto falando "vamos fazer uma troca" que eu já tremo. Na época da copa, queria trocar uma figurinha dele por duas minhas. Quase aceitei.
Enquanto meus feitos como pechinchador são tão vastos quanto as teorias sobre física quântica que elaborei, ele vende o que quiser. Seu negócio mais célebre foi quando ele trocou um celular (e mais um dinheiro, segundo ele) por um Fusca. O carro passava cerca de 20 dias na oficina e 5 na rua. Nesses 5 dias, parava algumas vezes, como na hora dele ir para a faculdade, no horário mais movimentado. Bem em cima da ponte.


foto antes (ou depois?)


Estou sendo um pouco injusto, ele até já me deu carona para o estágio uma vez. 
- O que é esse barulho aqui?
- Aqui onde?
- Aqui no carro inteiro.
Fui colocar o cinto, mas cadê?
- Não tem nem cinto, que merda é essa?
- kkkkkk, vou colocar (ele deu seu sorriso amarelo).
Claro, beleza primeiro, segurança em último. Cheguei no estágio podre a gasolina.
O carro também estava com um pequeno problema nos faróis: nenhum deles funcionava. Tamanha era sua sorte que um dia ele chegou em casa todo molhado. Tinha chovido e ele teve que ir a 20 km/h, com a cabeça colada no pára-brisa pra enxergar. Falei:
- Pelo menos você tava de cinto.
- Hehehe (sorriso amarelo).
Sua visão de investimento também era incrível:
- Eu vendi o carro por 8 mil reais, meu amigo.
- Você gastou sete mil nele.
- Tá, mas ganhei.
Quase um Eike Batista.
Ele acabou vendendo o carro, acho que foi pra São Paulo. Ele até hoje diz que era insuportável andar na rua, que todo mundo parava pra perguntar quanto queria. Acho que era "quanto você quer pra tirar o carro da frente", não sei. Quando ele ler isso, vai aparecer no meu quarto querendo trocar uma lâmpada por um notebook. E eu acho que vou aceitar, que droga.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Amor bruto

Hoje eu vou falar algo que me tira do sério. Algo que, quando penso nela, meu raciocínio e minha lucidez ficam comprometidos. Quando estou correndo e sinto seu cheiro, perco um pouco a força, quase paro. Pipoca.

se bem que...

Tem gente que dedica sua existência inteira buscando o sentido da vida. Outros, atrás de petróleo. Eu, desde quando me dou por gente com dentes o suficiente para o milho ficar preso entre eles, só tenho um objetivo: saber fazer uma pipoca igual à do pipoqueiro.
Já tentei me vestir com aqueles jalecos e o chapéu branco que eles usam, me entrosando em portas de igreja (sua clientela clássica). Já me inscrevi em Conferências Regionais dos Pipoqueiros, sempre atrás do Grande Segredo. Tentei até colocar a pipoca num saco de papelão, mas sem sucesso. 


O que será que eles fazem pra dar AQUELE sabor? Será que o fato de você pagar 1 real por algo que, em 1 minuto, acaba, o deixa tão gostoso? Será que a fórmula é Pipoca = panela amassada + vento + óleo de precedência duvidosa? Uma amiga me disse que eu deveria acrescentar à formula a constante "falta de cuidado com higiene pessoal". Ela até me aconselhou a não lavar as mãos antes de ir na cozinha fazer essa iguaria, seria uma ofensa. Apesar de costumar ser sensata nas suas observações, não acho que ela tenha razão. Isso é coisa de quem amava algodão doce, daqueles que vendiam na praia naqueles sacos de plástico. Até sua mãe dizer:
- Minha filha, COMO você acha que aquele sujeito fez pra encher aquele saco? COM A BOCA, NÉ!
Nunca mais ela comeu algodão doce.
Amassar a pipoqueira, além de arriscado, é um caminho sem volta. Eu, com certeza, levaria uma bela bronca daquela que me trouxe ao mundo. Quebrar uma média de 6 copos por ano já é demais pra uma mãe. E pra mim também.
Ontem eu tentei inovar, sempre em busca da pipoca perfeita. Coloquei a manteiga antes de estourar o milho. Ficou muito boa, mas a quantidade de manteiga que coloquei superou em 3 vezes aquilo que eu considero ideal pra um coração saudável sofrer num só dia. Não acho que essa seja a fórmula. Também sinto que estou longe de chegar lá. Se eu não colocar óleo, vou colocar o que, água? Bom, pelo menos antes água do que fazer como meu irmão, que não colocou óleo e fabricou um negócio preto. 

domingo, 5 de dezembro de 2010

Um pagodeiro em fúria

Pareceu até um presente dos céus. Sexta fui ao dentista e cheguei cerca de 20 minutos atrasado. Um marco, já que eu não me lembrava de ter ultrapassado 10 minutos. E não foi nem por alguma poça de cimento fresco, foi por não ter vaga mesmo. 
Cheguei e fui pro andar de cima da clínica. Como estava atrasado, tive que esperar uma menina que já tava marcada. A sala de espera tem 2 sofás grandes, desses estilo casa de praia, e um de frente para o outro. Eu sentei na ponta de um deles, já que havia uns 7 ou 8 garotos, acho que entre 9 e 12 anos. Tinham vindo do interior e, provavelmente de tanto esperar, já estavam adotando brincadeiras kamikazes. Um pouco depois de mim, chega um cara meio grande, moreno, vestindo uma regata e uma bermuda, bem ao estilo pagodeiro. Devia ter perto de 30 anos e ouvia música com os fones de ouvido do mp3 player. Tinha também uma tatuagem que, longe eu de ser um especialista no assunto, parecia ter sido feita na prisão.
Eu não sei o que foi que eles fizeram, mas dois dos meninos, que sentavam no outro sofá, tiraram alguma brincadeira entre eles. Apostaram que o cara não iria ver, mas o que se seguiu comprovou que essa juventude atual pode ser bem inconsequente. O cara tirou os fones do ouvido e falou:
- Você tá mexendo comigo? Tá achando graça?
- E-eu? Eu não... Foi ele - e apontou pro do lado (X9 sacana)
- Você tava tirando onda, sim. Se você não fosse pequeno, a gente já teria resolvido isso. Vocês nem me conhecem e vêm mexer comigo, rapaz. Respeitem os mais velhos.
Os meninos não respiravam. O cara tava certo, principalmente na parte de ser uma pena eles serem pequenos. Afinal, eu era o único adulto homem ali, quem você acha que iria ter que separar uma eventual tentativa de homicídio?
O cara continuou:
- CADÊ SUA MÃE?
Eu já tava quase correndo. Na verdade, tava doido pra rir, mas fingi muito bem que jogava no celular. 
- T-tá l-lá embaixo.
Pouco depois, a mãe dos indivíduos sobe.
- A senhora é a mãe desse cidadão? 
- Sou.
- É porque ele nem me conhece e fica tirando gracinhas.
- Mas ele é uma criança.
- É? É de crianças que são feitos os homem (nunca tinha ouvido esse ditado, mas quase aplaudi).
- Pois eu peço desculpas ao senhor.
Nisso o cara foi lá embaixo, o que deu tempo de a mãe perguntar ao filho o que tinha acontecido. Não consegui ouvir, provavelmente porque o garoto mal conseguia respirar, imagine falar. Só que o cara voltou logo e ouviu.
- ESSE DAÍ TIRANDO GRACINHAS COMIGO. EU TO MIJADO? EU TO CAGADO PRA VOCÊ ESTAR RINDO?


Ficou um silêncio, aquela tensão no ar. Do nada, ele tira o fone de ouvido do celular e deixa a música tocando alto. Era um rap daqueles de presídio, mais ou menos assim: "aluno só se cala quando tira uma seta. Quando tira uma seTÁ! É rap violento, pode ameaçar... não sei o que lá do presídio". Entenderam a pequena mensagem subliminar? Os meninos não respiravam.
Pra salvação daquela pequena parcela do futuro da Nação, a atendente do dentista dele chegou e o chamou pra consulta. 
- Tudo bem? - ela perguntou
- Tudo.
Imagine se não estivesse.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Na hora pareceu uma ótima ideia

Provavelmente, com o tempo, eu pensarei em várias outras grandes ideias que já tive nessa louca vida. Afinal, os grandes homens tentam e erram. Faz parte. Acontece que, na hora, você pensa: "poxa, usar um colchão como trenó e descer essa escada da casa de vovó vai ser muito radical". Quando você se move 10 centímetros por hora é que você nota que algumas concepções podem ser falhas.



Comprei um jogo do wii em que há diversas atividades, como ioga, canoagem, boxe, step, corrida. Certo dia, eu tava espirrando e temia que minha corrida pela orla poderia estar comprometida. Como fazemos tudo em nome da boa forma e como eu queria experimentar correr no vídeo-game, resolvi arriscar. Funcionava assim: você liberava um certo espaço em frente à tv. Então, você colocava o controle do wii no bolso e corria sem se mover (?). O sensor captava o balanço do controle e o bonequinho cabeçudo começava a correr. Eu tinha determinado um tempo: 15 minutos, crente que seria pouco e que ainda acrescentaria uns minutos depois. Ledo engano, meus amigos. Esse jogo não simulava em nada uma corrida real. Pra você correr mais rápido, não bastava simplesmente se mexer mais rápido. Era preciso levantar as pernas, só assim o boneco acelerava. Como o controle ficava no bolso de atrás, acho que dançar o rebolation provavelmente teria o mesmo efeito. Eu já corri 50 km em 5 dias e foi tranquilo, mas a dor que senti nas panturrilhas depois de correr nesse negócio foi absurda. Foram uns 3 ou 4 dias de dor. Foi mesmo uma experiência única: nunca mais faço de novo.



Quando meu irmão e eu éramos menores, acho que ele tinha 9 e eu 10 anos, nosso sonho era ganhar uma toca do gugu. Nosso diálogo com minha mãe é que foi digno de condenar um passado. Meu irmão:
- Compre, mãe, ter uma Toca do Gugu é o meu sonho.
- Nosso! - completei.
É, os sonhos tendem a fazer as pessoas falarem frases dramaticamente inesperadas.
Fomos no supermercado e pagamos algo em torno de 80 reais, isso há 13 anos. Em valores de hoje, acho que daria pra uma barraca para 8 pessoas. Só sei que o valor foi alto, prova disso foi que, quando estávamos no estacionamento, colocando as compras (dentre elas, a toca), vi um folheto das Americanas. Falei:
- Olha, mãe, nas Americanas tem a toca do gugu por 69 reais!
- PORRAAAAAAAAA!
Gugu é foda.
Pra falar a verdade, essa toca deveria se chamar toca do tatu, porque, mesmo com 9 anos, ela era muito pequena. Era enfiar só a cabeça, fechar o zíper e dormir.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Deus salve a rainha

Numa época não muito distante, há cerca de 8 anos, usar um ou outro acessório colorido não era um indicativo de algo perigoso mais pra frente, como calças coloridas e ter um corte de cabelo assinado por um macaco usando os próprios pés. Tá certo que em nenhuma época eu usaria calça colorida, mas acho que deu pra entender.
Eu estava na oitava série e ouvia Blink, Pennywise e outros, mas não tinha a menor intenção de sair pela rua gritando "Anarquia" ou incentivar as pessoas a não comer no McDonald's. Primeiro, porque sair gritando na rua por quaisquer motivos que não seja correr de um assassino é bem idiota e me dá vergonha só de pensar nos patéticos sem amigos que já fizeram isso. Um minuto de silêncio. Segundo, eu gostaria muito de saber a utilidade em boicotar o McDonald's, essa saudosa rede que me forneceu vários brinquedos ao longo da infância, enquanto eu agonizava de enjoo no carro por ter tido a brilhante ideia de comer um McLanche Feliz no meio de uma viagem de 2.000 km de carro. Tenho estômago fraco. Acho que as mesmas pessoas que tiveram essa ideia tão revolucionária são pais desses que, hoje, xingam muito no twitter. Se vocês querem mesmo derrubar os Estados Unidos, poderiam assistir a alguns episódios de MacGuyver e fazer algum curso de pilotagem de avião. Funcionou pra uns caras da Al Qaeda em 2001.



Eu me contentava, como atos de rebeldia, em sair de casa faltando 2 minutos pra tocar o sinal; reclamar com o porteiro que aquilo era cárcere privado sempre que eu queria ir pra casa no meio da manhã; e usar um cadarço azul e outro laranja. Essa última e brilhante ideia, aliás, teve uma duração precoce. No meu colégio havia um cargo chamado "Inspetor", que tinha duas funções principais: a) impedir que os alunos se matassem nos intervalos; e b) pedir gentilmente que todos entrassem na sala depois do fim do intervalo. Sob o ponto de vista da gente, eles só tinham uma única função: encher o saco.
Eu estava subindo a escada quando um inspetor chegou do meu lado, colocou a mão no meu ombro (se em algum manual de liderança isso significa estabelecer uma posição de domínio, pra alguém que está no ensino fundamental isso significa outra coisa) e falou:
- Olha, você não vai poder mais vir com esses cadarços coloridos, isso é modismo.
Respondi:
- Se é modismo, por que ninguém tá me imitando?
- (...) Não venha mais.
Argumentar, com certeza, não estava entre as funções dele. 
Nesse mesmo ano, eu ganhei um baixo e formei uma banda com dois amigos. Como eles não tocavam nada ainda, só fomos ensaiar no ano seguinte. Estava formada a New Nose, a banda polêmica e que tocou nos lugares mais inusitados da história. Foram só 4 shows: no festival de talentos do colégio, num posto de gasolina (ao lado da troca de óleo), na Escola Técnica e num curso de inglês.



Nosso primeiro show  foi no curso de inglês e pareceu uma ótima ideia pintar meus cabelos de verde, com um spray. Verde marca-texto. Para meu amigo, que era o vocalista, também pareceu uma ótima ideia cantar "é a porra do Brasil" no final do refrão de "Que país é esse" quando a plateia era formada, em 95%, por crianças abaixo de 12 anos, pais e avós.
Um dos shows nem mesmo chegou ao fim. No festival de talentos do colégio, a bateria literalmente andava pra frente, o que frustrou deveras nosso baterista. O grande aprendizado foi que, se você fala "eu não toco mais nessa porra", a apresentadora tem grandes chances de dizer que sua banda está expulsa do festival. Liguei pra mamãe e tive que ir mais cedo pra casa. Droga.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Plano de voo

Às vezes, você não planeja o perigo. Ele simplesmente aparece. Dessa vez, não consegui ver o jogo do Timão em SP, mas isso não me impediu de passar por maus bocados, mêu. Eu tava ontem fazendo a checagem-dentro (vulgo  "check-in", não gosto muito de estrangeirismos) em Guarulhos, quando ouço uns gritos. 
- Ei, Corinthians, vá tomar no cu!
Eram todos os 35 torcedores do Fluminense (exceto por meu primo e meu tio) voltando do jogo contra os bambis - o SPFC -, os quais, aliás, não se contentaram em entregar o jogo, mas tiveram que perder tomando de quatro. Seria um encontro normal com esses pobres coitados que jogaram a Série C e precisaram de uma virada de mesa pra voltar pra Série A, exceto por um pequeno detalhe: eu tava com uma camisa do Corinthians. Tirei os óculos na hora, pra não sujar de sangue (deles) e atravessei o saguão pro guichê da Gol.
Não me entenda mal, antes o Flu - um time pequeno - ser campeão a outros como o São Paulo, o Palmeiras ou o Flamengo. Acontece que é desagradável ouvir cânticos amistosos do tipo:
- Co-rin-ti-a-no otário, o centenário foi pra casa do caralho!
Que boca suja. Não muito agradável, também, é esse sotaque puxado de cariocas falando "pô, eu não exxxxperava ganhar de 4x1, bicho". Ou então "eu moro na Tijuããca". No final, como dita a lei da selva, levantei os braços pra parecer maior e estabeleci meu domínio. Vi, fui e venci.
Cada torcida tem uma fama. A do Flamengo é de traficantes; a do Corinthians, de maloqueiros pobres; a do SPFC, de riquinhos gays; do Fluminense, de jogadores de pó de arroz (?) e por aí vai. Mas, quando um torcedor do Fluminense senta ao seu lado no avião, apanha uma moeda de DEZ CENTAVOS que tava no assento e fala:
- É sua?
- Não.
- Então agora é minha, hehehehe (a risada de quem tá mal).
- Hehehehehe (a risada de quem te acha patético).


O voo atrasou uns 40 minutos. Parece que alguém fez a checagem-dentro, sua mala foi pra dentro do avião e ela acabou não embarcando. Um comissário leu uns nomes, dentre eles uma "Rosa", numa espécie de chamada. O capitão falou:
- Pedimos desculpa pelo atraso, mas, por uma questão de segurança, teremos que tirar a mala do passageiro que não embarcou.
O carioca dos dez centavos:
- É, txira mesmo isso  daí, pô, depois é uma bomba.
Uns 15 minutos depois, entra uma mulher com cara de desorientada no avião. Era Rosa. Todo mundo aplaudiu ironicamente. Como são gozados esses tricolores.


PS: esse post é dedicado a Mateus Cullen, agora um vampiro maior de idade. 

domingo, 7 de novembro de 2010

O incrível ninja


Quando pequeno, sempre fui fã de heróis japoneses. Jiraya, Jiban, Kamen Rider, Jaspion. Esse mundo de robôs, ninjas e besouros que combatiam o crime com espadas, motos e um pouco de óleo em suas juntas era fascinante.
Como era uma febre aqui no Brasil, as marcas de brinquedos lançavam os bonecos e fantasias. Não deveria revelar isso, mas, por muitos anos, entre meus primos menores, minha identidade secreta era Jiraya. Eu também era o monstro, já que não tinha mais ninguém disposto a fazer esse papel. 


Eu devia ter uns 6 anos e estudava num colégio pequeno chamado São Francisco de Assis. Era pequeno, devia ter, no máximo, umas 6 salas. Eu tinha um boneco de Jiban, o policial robô, e de Kamen Raider Black RX, um policial-besouro que tinha uma moto massa. 
Estava de bobeira com meus dois bonecos, na hora do recreio, quando um garoto gordo aparece. Gordo não, se eu pesava cerca de 20 kg, ele pesava uns 45. Ele, que devia estar chateado por não ter encontrado nenhum gato pra enforcar naquela semana, chegou pra mim e falou:
- Esses bonecos são meus.


Ainda faltavam uns 15 anos pra eu entrar na faculdade de Direito e estar familiarizado com o direito de propriedade, mas, já naquela tenra idade, a lógica pôde me iluminar a falar:
- Não são, não.
Ainda faltavam 15 anos pra ele ser preso pela primeira vez, então o que a lógica de um serial killer lhe permitiu fazer foi pular em cima de mim. Literalmente. Ele começou a puxar meu cabelo, enquanto seu corpo regado a fandangos e hambúrguer sentava sobre o meu, indefeso. Como o ser humano é esse ser incrível (uma porra que é!), logo juntou aquela galera ao redor. Meu único e último movimento foi esticar meu braço e topar o tênis de uma coleguinha, falando:
- Cha.. chame a... professora
A vadia, digo, a menina, nem se mexeu. Será que só tinha psicopatas naquele colégio, São Francisco? Felizmente, apesar da minha mente em agonia achar que o mau imperaria sobre o bem, a professora chegou e me salvou. É claro que minha mãe foi lá quebrar tudo depois da aula. Até tinha saído sangue de leve. Anos depois, prometi a mim mesmo que iria proteger os fracos e oprimidos me vestindo de jiraya no carnaval.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Guerra ao terror

Meu irmão é como Macauly Culkin em "Esqueceram de mim": não pode ver bombas, armas de brinquedo ou coisas do gênero que tem que comprar. Toda vez que vai a São Paulo, volta com caneta que dá choque, laser que dá choque, isqueiro que dá choque. Como ele não é um mestre nas mentiras, aparece no meu quarto, falando com um sorriso maroto:
- Olha esse isqueiro que comprei... 
- Nem fudendo, dá choque.
- Dá nada kkkkk
É claro que ele compra aqueles que têm dois botões: um que funciona de verdade e outro pra efetivamente dar o choque. Ele aperta o verdadeiro pra me ludibirar, mas não caio mais. Só cairei se ele comprar uma nota de 20 reais que dá choque. Ele tá me devendo 20 reais, então eu teria que aceitar.
Nos últimos 2 ou 3 anos, ele inventou de comprar bombas de breu pra soltar na praia. Essas bombas têm quase o tamanho de duas bolas de tênis. Parece que, quando foi comprar, ele ouviu recomendações da dona da barraca de fogos mais ou menos nesse sentido:
- Olhe, você acenda e CORRA, CORRA PELA SUA VIDA. Se sua mãe estiver com você e cair, deixe ela e CORRA UNS 100 METROS!
A mulher era mais ou menos assim:



... então ela tinha um pouco de razão.
Ia rolar um luau na praia, também conhecido como desculpa-pra-soltar-fogos-de-alta-periculosidade. A fogueira, o carro e a galera tavam no começo da praia. Como o mar fica muito longe do começo aqui, pegamos um ônibus pra chegar perto do mar cor-de-toddynho. O bomberman do meu irmão fez um buraco, colocou seu artefato explosivo e começamos a correr. Quase todos. Quando chegamos perto do resto do pessoal, vimos que faltava um primo. Só deu pra gritar, da forma mais carinhosa possível pra quem via um parente em iminente risco de vida:
- VICTORRRR, CORRA PRA CÁ, SEU RETARDADO! 
Pelo menos ele não correu "em direção à luz". Correu 100m pro lado oposto. Seu argumento foi que "não sabia pra que lado era pra correr".

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Que trapalhona

Eu não sei o que fazíamos ali, mas lá pra 2000 ou 2001, eu estava com meus pais e meu irmão numa cidade do interior aqui do Estado. Quando você é menor de idade e sua opinião vale tanto quanto um comentário de Galvão Bueno, você costuma se ver obrigado, por exemplo, a passar 5 dias numa fazenda ouvindo a mesma fita de Blink 182 no walkman. E se você adora os pelos nas pernas, o cheiro e o conforto que andar a cavalo te proporcionam, que sorte! 
Felizmente, essa história foi depois de ter pagado meus pecados. Tínhamos parado nesse restaurante na beira de uma estrada. Tinha pelo menos umas 50 mesas ali, mas todas estavam vazias. Exceto pela nossa e por outra, onde havia uma pessoa bem conhecida. 

Dedê Santana

Ele tava lá com seu filho e mais um pessoal, promovendo um encontro da Igreja Batista. Enquanto comíamos, um carro de som ficava circulando, dizendo: "Aqui é Dedê Santana e eu convido você para o IV Encontro da Igreja Batista!".
O restaurante pertencia a uma vereadora do Município. Foi só falarem pra ela que Dedê estava ali, que ela apareceu na hora. Toda alvoroçada, só que ligeiramente sem noção. Primeiro, ela chegou no filho de Dedê, uns 25 ou 30 anos mais novo e falou:
- Oi, Dedê, prazer!
Alguém da mesa:
- Esse não é Dedê, esse é o filho dele. Esse é Dedê.
Que vergonha alheia.
Pensei: "coitado do cara..."
Veio, então, o golpe final da parlamentar:
- Cadê Mussum e Zacarias? Mande um abraço neles!
Dedê, visivelmente sem graça:
- É... vai ser difícil.
Tudo bem Tiririca ser analfabeto e palhaço, mas aposto que ele sabia essa. 

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Post de aniversário


Eu já me vesti de Fred Flintstone num aniversário, já tive outro das Tartarugas Ninjas, mas nenhum foi igual ao dos 100 pintinhos. Antes que você considere essa a frase mais gay que já ouviu (junto com "estou completando primaveras hoje"), foram literalmente 100 pequenos galináceos. Quando apagaram as luzes para os parabéns, foi um piu, piu, piu que teria deixado Gugu doido. 

A proposta daquele aniversário era dar um pintinho de presente para os convidados. Genial. O problema é que sobraram uns 10 ou 15 pintinhos, que tivemos que criar no apartamento em que morávamos. Hoje, eu poderia ser dono de uma grande rede de frango assado, mas a história foi outra. Eu não vi nenhum deles crescer. Aliás, anos depois eu também ganhei pintinhos, mas nunca os vi crescer. Morriam fácil os coitados. Por isso, acabo de constatar que uma das coisas pra fazer ainda nessa vida é criar um pintinho até ele crescer e virar uma galinha. Não vou comê-lo porque não curto muito frango. Vamos envelhecer juntos.


No entanto, ando suspeitando que eu seja parente muito próximo de Benjamin Button. Muita gente pensa que tenho 18, 19 anos. Muita gente mesmo. Quando fui para os Estados Unidos, ano passado, com 22, eu comprava cerveja para os meus amiguinhos com menos de 21. Eu  saía do supermercado com uma caixa de 12 latas e as pessoas olhavam pra mim como se eu tivesse assaltado um banco e saído na moral. Era legal. 
O cúmulo, mesmo, foi domingo, quando fui num resort na Bahia. Como meus pais e eu íamos só passar o dia com minha irmã, meu cunhado e minha sobrinha, tínhamos que pôr uma pulseira. A mulher achou que eu tivesse menos de 18. Essa mulé tá é doida, meu rei. Falando sério, eu juro que vejo esses olhos sábios e cansados, no espelho, mas não entendo.


Da 6ª série até o meu 1º ano, só fiz festa em pizzarias. Era como se elas fossem os "pintinhos" da minha adolescência (esse texto ficar mais gay a cada parágrafo). Só porque comemorei por 4 anos seguidos, até hoje me perguntam em qual pizzaria vai ser a festa. Hilário. 
Este ano, meus pais, meu irmão e eu jantamos pra comemorar os aniversários. No do meu pai, o prato que pedi era gigante e só consegui comer a metade. Não queria desperdiçar, aí falei pra minha mãe que queria "levar pra casa". Fui motivo de chacota. Minha mãe contou pra meu pai e os dois começaram a rir. Que ricos e finos. 
Foi um dia de aniversário bom, mas eu quero que o próximo seja louco. Que envolva bolas de fogo, ninjas, cobras, perseguições policiais. Porque, parando aqui pra pensar, acho que o aniversário mais "louco" que já tive foi um que envolveu 100 aves amarelas numa caixa gigante.

sábado, 16 de outubro de 2010

Uma cãimbra estratégica


Quem nunca ficou "de vela" nessa vida, que atire a primeira pedra da caverna em que mora. Era 2003, no carnaval, eu tava na casa da ex-namorada de um primo. Com ele, é óbvio, do contrário teria sido meio estranho. E ex-namorada atualmente, pois se já fosse àquela época, teria sido mais estranho ainda. Não me leve a mal, sou uma vela muito boa, mas uma hora não há chama que não apague. Nossa, o que foi isso...
Nós já tínhamos jogado war e eu não tava deslocado, a família dela era legal. O problema é que, lá pela meia-noite, meu primo foi com a namorada lá pra fora. Pra "namorar", como dizem no interior. Ou como pais ingênuos também devem falar.
Enquanto eles estavam lá, eu estava na sala, com a família inteira, assistindo ao desfile da Mangueira. Só que me deram logo o puff, que é o sonífero por excelência de qualquer sala. Era perto de 1h da manhã, no auge do refrão "MANGUEIRA, VERMELHA! MANGUEIRA, VERMELHA!", quando o sono começou a bater. Pensei: "sou eu contra o puff, vou perder essa luta..."
Sabe quando você força o músculo abaixo do joelho e consegue provocar uma cãimba? Eu sei, sou genial e pensei em fazer isso. Disfarçadamente, dobrei a perna e consegui. Mas, o pensamento foi:
- EEEEEEEEEEEEEEITA DOR DA PORRA!
Quando estiquei a perna, deu cãimbra de novo. Essa não tinha sido planejada, mas aguentei. O pior foi que o sono não passou e eu não me lembro até hoje se cochilei lá. Já pensou que vergonha teria sido dormir na frente da família dela toda? 

terça-feira, 12 de outubro de 2010

É o vírus

Se tem uma coisa que eu não entendo, são vírus de computador. Vírus são como pochetes: quando você jura que não existem mais, alguém aparece com uma ridícula. Mesmo assim, queria muito conhecer quem produz essas coisas. O cara deve acordar um dia e pensar: "hoje, vou fazer um vírus muito legal, vou ter amigos e não vou ter que jogar mais que jogar dama sozinho". 

curto pochetes 

O único vírus que peguei foi pelo orkut (não faço de ideia de como), que fez eu deixar umas 100 mensagens com um código. Estranhamente, elas só foram pra meu irmão, então temos que aplaudir. Deve ter sido o primeiro vírus baseado em DNA da história. Fiquei no lucro.
Há alguns princípios que você pode seguir pra não ser enganado. O primeiro, e que em 99% das vezes elimina a necessidade de passar para os outros princípios, é o do português correto. Claro que não to exigindo que o cara mande uma mesóclise, mas é fácil perceber erros de concordância e, principalmente, vírgulas. Se você acredita nesse, por exemplo:


... você tem dois problemas: o primeiro é que você gasta dinheiro com merda e o segundo é que você é um idiota. Outro dia recebi um e-mail com o título "Flagras... tranzando na garangen do predio". Çem pallavraz.
O segundo princípio é o do bom senso. Vale para aqueles vírus curtos, que não têm nem tempo pra escorregar na bela língua portuguesa. Se você não for mórbido, sociopata ou simplesmente tosco, pode ficar tranquilo. Mas, se você se imagina cortando o pescoço deste que lhe escreve ou clicaria nisso:


... saia daqui.
Também não entendo como tem gente que manda recados em massa pelo orkut e fala que "não é vírus!!!!". Eu acho que ninguém vai pensar que um convite pra "IV Caminhada dos Amigos da Igreja Batista, sábado, ao meio-dia", por mais sedutor que seja, é vírus. Aliás, se eu fosse fazer um vírus, falaria justamente que não é vírus. 
Algo que todo mundo já viu e que nem sei como classificar são esses recados, também em massa, dizendo que, se você não mandar isso pra 89 pessoas, o orkut vai ser pago ou vai acabar. Primeiro, quem manda correntes merece tropeçar em banheiro de posto de gasolina de estrada e cair com a cara no chão. Segundo, orkut pago? O google já tem estragado aquilo sozinho, não precisa da "ajuda" de ninguém.
Parece até um assunto da era moderna falar na ingenuidade em relação a vírus, mas acho que isso tá presente desde os tempos de Cristo mesmo. Aposto que as mesmas pessoas que clicam em fotos de casais "tranzando", há uns dois mil anos comprariam espinhos da coroa de Jesus ou ossos do burro de José, junto com outras dez mil...

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Atrás do trio elétrico...

...só não vai quem ganhou abadá de Carlinhos Brown. Abadá: palavra de origem africana que significa camiseta, geralmente colorida, utilizada para shows, festas e manifestações carnavalescas, mas que algumas pessoas pensam que é roupa e vão com ela ao shopping.




Em 2009, fui com meu irmão pro carnaval de Salvador, já que o site em que minha irmã trabalha faz a cobertura todo ano e tem camarote lá. Os baianos provavelmente devem achar 7 dias de festa pouco, mas, para mim, 5 dias aguentando "vai buscar dalila" 20 vezes por noite foi o suficiente. Um guerreiro.
Por mais que ficar bebendo, comendo frituras e vendo celebridades do mais alto nível, tipo o ex-bbb Fernando, seja muito legal, sair num bloco não seria nada mau. Lá para o segundo dia, conseguimos, de presente, pulseiras pro bloco de Carlinhos Brown. De graça, incrível!
Eu nunca fui nenhum especialista em micaretas ou coisa do tipo, mas logo falei pra meu irmão:
- CARLINHOS BROWN? VOCÊ TÁ LOUCO? NÃO VAI DAR NINGUÉM!
- Que nada, é Salvador, po.
- NÃO TEM NEM ABADÁ!
- É Salvador, po (argumenta muito esse garoto).
Carlinhos Brown tava usando terno e um cocar. A gente tava na frente, embaixo de uma baleia gigante, feita de garrafa pet e que cuspia papel picado. Tinha mais gente na minha família. Tava tão vazio que dava pra eu abrir os braços, dar um mortal e não atingir uma pessoa. Sem brincadeira. Parecia uma procissão.


não como esta.


como esta.


Padre, pequei, desculpe, uma procissão teria sido muito melhor. Acho que duramos uma hora, até que resolvemos procurar algo melhor. Ir embora, por exemplo. No dia seguinte, acabamos ganhando um abadá (finalmente!) pra um tal de André Lelis. Ele é a versão Cláudia Leitte de Durval Lelis. Ou seja, a mesma voz. Vi agora no google que são irmãos, então faz sentido. 
Então, nesse bloco, o índice de presença era bem maior, mas não pude deixar de notar que tinha muita gente feia. Não que eu esteja com mimimi, mas o negócio não tava bom mesmo. Pensei: "Asa de Águia, em SALVADOR, e gente assim? Estranho". Mais ou menos uma hora depois, o tal do André Lelis fala:
- E atrás de mim, Durval com o Asa de Águiaaaaa!
Eu:
- Então quem é esse cara?
Acabamos não indo até o final, já que não tínhamos muita motivação, né. Conseguimos abadás pra Cláudia Leitte, mas o esperto do meu irmão não acordou e perdemos. O saldo final, quando voltamos pra casa, é que foi melhor ainda: os dois foram pro hospital, ele com uma infecção alimentar e eu desmaiei e bati a cabeça na parede. Com Carlinhos Brown não se brinca.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Bronze com gosto de ouro

Esta é uma história de superação, garra e sucesso. Na 6ª série, meus colegas e eu jogávamos xadrez (que é um esporte) todo dia na sala, nos intervalos. Quando a gente era interrompido pelas aulas, eram vários os tabuleiros embaixo das carteiras, esperando pela continuação da partida. De uns 15 que jogavam, eu não era o melhor, talvez o 3º ou 4º. 

xadrez é guerra

Como todo ano, aconteciam as Olimpíadas internas e tinha um limite de atletas por sala. Se não me engano, eram 4 ou 5 pro esporte da mente (xadrez, dã). Cada um jogava 5 partidas. Se você ganhasse, levava um ponto; se empatasse, levava 0,5; e, se perdesse, levavam sua dignidade. Você pode estar pensando que não existe empate em xadrez, mas eu vou provar que isso é possível. E duas vezes. 
Logo na primeira rodada, eu peguei a única menina do torneio, que era 1º ano. Pensei: "massa, a única menina, vai ser tranquilo". Dez segundos depois: "se ela é a única menina, deve jogar muito e vai me mandar pra casa pra jogar pokémon, droga".
Começa a rodada, todos já jogando, mas nada da menina. Eu fiquei esperando, olhando pro relógio e torcendo pro W.O., quando, uns 10 minutos depois, ela aparece, suada. Tinha acabado de jogar uma partida de vôlei. Começamos a jogar e eu fui capturando rainha, torre e a galera toda. Até que a menina abandonou o jogo. Bom, pelo menos uma eu tinha ganho uma antes que me eliminassem.
Na segunda rodada, enfrentei um gordinho da 8ª série. Pra quem era 6ª, essa diferença equivalia a uns 10 anos. O jogo tava muito disputado, os dois capturando muitas peças. Numa hora, não tinha muitas peças e o jogo tinha ficado travado. Era como brincar de pega-pega num salão só com uma pilastra no meio: por mais que um corra atrás do outro, nunca vão se alcançar. Nossa, eu devia narrar jogos de xadrez.
Novamente, eu empatei, mas dessa vez com um garoto do 1º ano. Ou seja, 15 anos mais velho. Só que a situação não estava tão ruim, já que, ao final dessa terceira rodada, meus amigos - melhores do que eu - já tinham perdido uma partida ou mais cada. O sonho da medalha começava a se tornar plausível. Ui.
As estatísticas esperavam que eu empatasse o quarto jogo, mas venci um moleque da 8ª série. Tinha uma cara de futuro chefe do tráfico que era uma beleza. Eu ia para a última roda invicto. Tava com o capeta enxadrista no sangue.
Se as estatísticas me deram aquela folga, não me ajudaram muito na última partida. Novamente, peguei outro aluno da 8ª série, mas ele simplesmente tinha o apelido de Roque. Eu não sei se era por causa do nome de uma jogada, ou se era porque ele tinha o cabelo igual ao de Roque, aquele assistente de Silvio Santos. Vai ver era pelos dois motivos. Só sei que ele era o melhor do colégio e acabei perdendo. Mas, na contagem final, eu tinha ficado em 3º. É BRONZE! Fui pra galera, mas não tinha galera alguma. Só tinha um bando de garotos em crescimento que tinham passado as últimas 4 ou 5 horas jogando xadrez. Guga, um primo que tinha ido comigo e tinha 8 anos, cresceu uns 5 centímetros, só pra você ter uma ideia. 
Fui no ginásio receber minha bela medalha. Ironicamente, após ganhar e empatar com gente de pelo menos 2 séries acima, eu fiquei atrás de dois alunos da quinta série. Puta mundo injusto.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O Dia Mundial da Vergonha

Dia 15 de outubro de 2004, eu tava no terceiro ano do ensino médio. Não sei por que, mas, uma semana antes, tive a brilhante ideia de topar fazer um poema em homenagem aos professores, já que o dia deles estava chegando e haveria uma homenagem. Acho que o fato de o pedido ter vindo de uma garota loira e de olhos azuis, que era segundo ano, ajudou um pouco. Quando ela me chamou lá fora, durante a aula, até esqueci que fazer um poema para os professores era gay pra cacete.


Acabei conseguindo escrever algo e tinha levado pro colégio. O dia estava indo bem, até que a coordenadora aparece no meio da aula para um breve anúncio:
- Hoje, no intervalo, haverá uma homenagem aos professores. Quero que vocês desçam pra dar uma força pro pessoal do 2º ano.
Qualquer motivo era excelente pra não ficar naquela sala, no intervalo, enquanto nerds discutiam ácidos e bases. Até ela acrescentar:
- Ah, e também para prestigiar nosso amigo Tiago Benitez, que escreveu algo para os professores.
Se aquele tivesse sido o dia em que eu estivesse conhecendo meus colegas, eu teria olhado para os dois lados, procurando por esse tal de Tiago. Mas, como nem tudo na vida são balas 7 belo, a única opção foi tentar não explodir de tanta vergonha. Literalmente, porque eu sinto uma ardência forte no rosto em momentos assim. Arrisco até a dizer que fico vermelho.
Como eu não tinha nenhuma briga marcada para aquele dia, desci com minha gangue até o pátio. Só que, ao chegar lá, o lugar tava lotado. Lotado não, tinha gente pendurada nos portões, brotando do chão, caravanas vindo de outros colégios. Ok, não tinha caravanas, mas tinha umas 300 pessoas fácil ali. Até tinham arrumado os bancos como se fosse uma arquibancada.
Fiquei bem atrás da fileira de bancos, a uma distância média do palco. Só que foi por pouco tempo. A menina que apresentava pegou o microfone e falou:
- Vou recitar esse poema que Tiago Benitez, do 3º C, fez. Eu queria chamar Tiago aqui pro palco.
Pensei: "pra que, minha filha? é um poema, não é uma coreografia". Mas falei:
- Não, valeu.
Infelizmente, meus amiguinhos me empurraram lá pra frente. Colocaram uma cadeira em frente ao palco, no canto direito. Sentei lá, para os mais longos 3 minutos da minha vida. No final, não sei por que, mas a galera foi à loucura.
- AEEEEEEEEEEEEEEEEEE!!
- TI-A-GÔ! TI-A-GÔ!
- TENHA FILHOS COMIGO! (posso ter exagerado, mas só nessa parte)
Eu só conseguia olhar de relance pro povo, e a única coisa que fiz foi um sinal de paz e amor (?). Quando fui me sentar, só levei tapinhas na cabeça de amigos e conhecidos.
- É  o Bilac! 
- É o Drummond!
Passei umas 5 ou 6 semanas sendo chamado de "poeteiro". Muito original. Imagine se tivesse rolado coreografia.