Corredorzinho é um eufemismo, uma denominação afetuosa para o temido "corredor da morte". Todos aqueles que participavam do jogo ficavam ao longo de um corredor de guris formado ao longo da quadra de futsal. A vítima tinha que atravessar de uma trave à outra com o menor número de hematomas possível.
Mas esse não era o único elemento da brincadeira. Na época de colégio, a generosidade e a ternura das crianças são algo que até hoje resgato em minhas memórias, especialmente quando animado por esse espírito natalino do momento. O corredorzinho era a punição alternativa de uma brincadeira chamada "três beijinhos". Esta, por sua vez, tinha como principal mandamento que, toda vez que os participantes se sentassem, teriam que pedir licença. Se não pedissem, teriam que dar três beijos numa menina que os outros escolhessem. Como o altruísmo não fazia parte do vocabulário de ninguém, a escolha era sempre uma das meninas, digamos assim, desprovidas de uma beleza externa.
E já que a falta de noção era a primeira regra (afinal, olha as coisas que a gente topava), ninguém queria dar os beijos. E nem eram na boca, eram na bochecha. A juventude era mesmo genial: "Não, eu não quero dar três beijos na face de uma semelhante e perder até a chance de começar uma bela história de amor". Nem passava pela nossa cabeça que muitas evoluem, quando maiores. No Manual de Sobrevivência do ginásio, o que valia era o presente. E só.
Em algum momento da brincadeira deslizes seriam cometidos. E então, um bando de garotos sedentos por violência fariam justiça com as próprias mãos. Pra falar a verdade, não sei como nenhum colega não levou nada disso pra vida. Porque deixar de dar meros beijos numa menina pra encarar socos e chutes, enquanto outros sonhavam em aplicar esses mesmos golpes é bem deturpado. Se bem que, no meu caso, isso pode explicar muita coisa kkkkk.
Algumas partidas foram memoráveis. Acho que a maior fatalidade que vi foi quando um amigo, que estava quase alcançando a trave, tropeçou e quebrou o braço. Fora isso, as sequelas foram mais psicológicas. Se não saía sangue, tava valendo.
Tinha um outro colega que detém o recorde escolar de apanhar de todos os meninos na sua turma. Vamos apenas chamá-lo de b-b-beiço, porque ele era beiçudo e gago. Ele era tão legal que o que acontecia era o seguinte: ele participava com, digamos, 12 outros colegas. Quando ele não pedia licença e ia para o corredorzinho, milagrosamente apareciam 30 meninos esperando pra espancá-lo. Acho que até de outras turmas. Mas ele sempre sobrevivia.
Acabou sobrando pra mim também. Mas não aconteceu nada demais. Acho que todo mundo, em algum momento da escola, já pegou carona de ambulância.
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