Páginas

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Resoluções de ano novo


Resoluções de ano novo são como broncas de mãe: sempre a mesma coisa e não adiantam nada, porque a galera sempre tá fazendo besteira. Eu acho que a questão não é você se organizar e traçar objetivos, isso qualquer pessoa deveria fazer sempre na vida. O problema é quem acha que o mundo vai acabar dia 31/12 e recomeçar dia 1º de janeiro. Que basta pular 7 ondas, pedir pra "Fulano de Oxum" jogar uma água maluca em você ou colocar caroços de uva na carteira que seus problemas serão resolvidos.
Eu mesmo já coloquei - por sugestão de uma tia-avó - caroços na carteira. A única resolução que isso trouxe foi ter me obrigado a comprar uma carteira nova. Também já determinei como meta aprender a tocar saxofone. Escrever num papel ajuda bastante. Nesse caso, me ajudou a parar de ser bichinha e ter metas de homem. Afinal, saxofone só serve pra duas coisas: trilha sonora de filme pornô e tocar em formaturas. A cada festa, Kenny G fica mais rico. Desafio quem nunca ouviu essa música em nenhuma celebração a comentar aqui. Essa tocou na minha Formatura do ABC, com 7 anos, e na da faculdade, aos 23. 
Quem pula ondas e guarda caroços de uva certamente deve acreditar em horóscopo. Eu não consigo compreender como Marte se alinhar com Saturno pode influenciar minha vida. Se Marte se chocar contra a Terra é que eu posso começar a acreditar. E outra: só porque determinadas pessoas nasceram em datas próximas significa que elas são muito parecidas ou iguais? Então, só há 12 tipos de personalidade no mundo? Que loucura.
Por isso, eu vou ser bem legal e colocar algumas sugestões de itens para as pessoas seguirem no ano que se aproxima:






1- Parar de andar na esquerda a 40 km/h
Ou minha cidade concentra o maior número de barbeiros por metro quadrado do mundo ou isso acontece também em outros lugares e eu devo fazer uma camisa e abraçar ainda mais essa ideia. Minha mãe quase derrubou um cara de moto que fazia isso. Foi massa, mas tive um medo da porra.


2- Parar de ouvir músicas bregas/ruins dizendo que é engraçado
Quando você coloca "gata da academia" no carro, à beira da piscina e em qualquer festa pelo menos 5 vezes, você não acha a música engraçada, você gosta dessa porcaria. E não to falando do meu irmão, ele acha engraçado e gosta. Falo das pessoas sem personalidade.

3- Parar de jogar lixo na rua
Na primeira série, um menino de outra turma entrou no meio da aula e pediu pra cantar uma pequena canção de sua autoria. Era assim: "Jogue lixo no lixo, não jogue lixo no chão, vamos deixar esta escola bonita como esta canção". O nome dele era Fiuk. Brincadeira, era meninO. Eu levei isso pra sempre e transformei em tapas na cabeça ou buzinadas e um grito de "seu porco!". Tá, nunca gritei pra ninguém, mas já dei cada olhada, mêu...


4- Atendentes de telemarketing
Aqui não há nenhuma necessidade de "parar" algo, é de exterminar mesmo. Um exemplo foi esse. Mas ele pelo menos só era tapado, o pior é quando ligam do banco. Até aí tudo bem, normal. Só que quando perguntam "se o senhor poderia informar o motivo do não-pagamento", isso me irrita. "Isso é irrelevante", eu respondo. Sim, vou fazer um curso de respostas-baixaria em 2011, que resposta...


5- Parar de usar expressões de retardado
"Ninguém merece", "aloka", "ficadica", "a festa foi mara" são autoexplicativas. Eu realmente queria conhecer quem criou alguma delas. Não, eu não queria.


6- Parar de falar "vem, 2011"...
... quando ainda estamos em novembro é algo para parar e se pensar. 


7- Parar de usar pedaços pequenos de cebola quando você sabe que eu vou comer na sua casa
Quase vomitei agora.


8- Parar de ouvir música alta e ruim no celular quando você não me conhece e tá na sala de espera de algum lugar
Quem gosta de Pink Floyd ou Chico Buarque não sai por aí esfregando na cara das pessoas. Pensem nisto.


9- Parar de falar "ah, o verão" 
Além de eu odiar essa expressão, o que me irrita é gente que fala isso e mora no Nordeste. SÓ HÁ VERÃO no Nordeste. Fale isso e vá andar no centro vestindo uma blusa preta, vá.


Acho que é só, Feliz Ano Novo, vocês que me acompanharam neste ano. OBRIGADUUUUU!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Corredorzinho

Corredorzinho é um eufemismo, uma denominação afetuosa para o temido "corredor da morte". Todos aqueles que participavam do jogo ficavam ao longo de um corredor de guris formado ao longo da quadra de futsal. A vítima tinha que atravessar de uma trave à outra com o menor número de hematomas possível.
Mas esse não era o único elemento da brincadeira. Na época de colégio, a generosidade e a ternura das crianças são algo que até hoje resgato em minhas memórias, especialmente quando animado por esse espírito natalino do momento. O corredorzinho era a punição alternativa de uma brincadeira chamada "três beijinhos". Esta, por sua vez, tinha como principal mandamento que, toda vez que os participantes se sentassem, teriam que pedir licença. Se não pedissem, teriam que dar três beijos numa menina que os outros escolhessem. Como o altruísmo não fazia parte do vocabulário de ninguém, a escolha era sempre uma das meninas, digamos assim, desprovidas de uma beleza externa. 


E já que a falta de noção era a primeira regra (afinal, olha as coisas que a gente topava), ninguém queria dar os beijos. E nem eram na boca, eram na bochecha. A juventude era mesmo genial: "Não, eu não quero dar três beijos na face de uma semelhante e perder até a chance de começar uma bela história de amor". Nem passava pela nossa cabeça que muitas evoluem, quando maiores. No Manual de Sobrevivência do ginásio, o que valia era o presente. E só.
Em algum momento da brincadeira deslizes seriam cometidos. E então, um bando de garotos sedentos por violência fariam justiça com as próprias mãos. Pra falar a verdade, não sei como nenhum colega não levou nada disso pra vida. Porque deixar de dar meros beijos numa menina pra encarar socos e chutes, enquanto outros sonhavam em aplicar esses mesmos golpes é bem deturpado. Se bem que, no meu caso, isso pode explicar muita coisa kkkkk.
Algumas partidas foram memoráveis. Acho que a maior fatalidade que vi foi quando um amigo, que estava quase alcançando a trave, tropeçou e quebrou o braço. Fora isso, as sequelas foram mais psicológicas. Se não saía sangue, tava valendo. 
Tinha um outro colega que detém o recorde escolar de apanhar de todos os meninos na sua turma. Vamos apenas chamá-lo de b-b-beiço, porque ele era beiçudo e gago. Ele era tão legal que o que acontecia era o seguinte: ele participava com, digamos, 12 outros colegas. Quando ele não pedia licença e ia para o corredorzinho, milagrosamente apareciam 30 meninos esperando pra espancá-lo. Acho que até de outras turmas. Mas ele sempre sobrevivia.
Acabou sobrando pra mim também. Mas não aconteceu nada demais. Acho que todo mundo, em algum momento da escola, já pegou carona de ambulância.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Se meu fusca falasse...

Meu irmão é um negociante nato. Até demais. É só ele aparecer na porta do meu quarto falando "vamos fazer uma troca" que eu já tremo. Na época da copa, queria trocar uma figurinha dele por duas minhas. Quase aceitei.
Enquanto meus feitos como pechinchador são tão vastos quanto as teorias sobre física quântica que elaborei, ele vende o que quiser. Seu negócio mais célebre foi quando ele trocou um celular (e mais um dinheiro, segundo ele) por um Fusca. O carro passava cerca de 20 dias na oficina e 5 na rua. Nesses 5 dias, parava algumas vezes, como na hora dele ir para a faculdade, no horário mais movimentado. Bem em cima da ponte.


foto antes (ou depois?)


Estou sendo um pouco injusto, ele até já me deu carona para o estágio uma vez. 
- O que é esse barulho aqui?
- Aqui onde?
- Aqui no carro inteiro.
Fui colocar o cinto, mas cadê?
- Não tem nem cinto, que merda é essa?
- kkkkkk, vou colocar (ele deu seu sorriso amarelo).
Claro, beleza primeiro, segurança em último. Cheguei no estágio podre a gasolina.
O carro também estava com um pequeno problema nos faróis: nenhum deles funcionava. Tamanha era sua sorte que um dia ele chegou em casa todo molhado. Tinha chovido e ele teve que ir a 20 km/h, com a cabeça colada no pára-brisa pra enxergar. Falei:
- Pelo menos você tava de cinto.
- Hehehe (sorriso amarelo).
Sua visão de investimento também era incrível:
- Eu vendi o carro por 8 mil reais, meu amigo.
- Você gastou sete mil nele.
- Tá, mas ganhei.
Quase um Eike Batista.
Ele acabou vendendo o carro, acho que foi pra São Paulo. Ele até hoje diz que era insuportável andar na rua, que todo mundo parava pra perguntar quanto queria. Acho que era "quanto você quer pra tirar o carro da frente", não sei. Quando ele ler isso, vai aparecer no meu quarto querendo trocar uma lâmpada por um notebook. E eu acho que vou aceitar, que droga.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Amor bruto

Hoje eu vou falar algo que me tira do sério. Algo que, quando penso nela, meu raciocínio e minha lucidez ficam comprometidos. Quando estou correndo e sinto seu cheiro, perco um pouco a força, quase paro. Pipoca.

se bem que...

Tem gente que dedica sua existência inteira buscando o sentido da vida. Outros, atrás de petróleo. Eu, desde quando me dou por gente com dentes o suficiente para o milho ficar preso entre eles, só tenho um objetivo: saber fazer uma pipoca igual à do pipoqueiro.
Já tentei me vestir com aqueles jalecos e o chapéu branco que eles usam, me entrosando em portas de igreja (sua clientela clássica). Já me inscrevi em Conferências Regionais dos Pipoqueiros, sempre atrás do Grande Segredo. Tentei até colocar a pipoca num saco de papelão, mas sem sucesso. 


O que será que eles fazem pra dar AQUELE sabor? Será que o fato de você pagar 1 real por algo que, em 1 minuto, acaba, o deixa tão gostoso? Será que a fórmula é Pipoca = panela amassada + vento + óleo de precedência duvidosa? Uma amiga me disse que eu deveria acrescentar à formula a constante "falta de cuidado com higiene pessoal". Ela até me aconselhou a não lavar as mãos antes de ir na cozinha fazer essa iguaria, seria uma ofensa. Apesar de costumar ser sensata nas suas observações, não acho que ela tenha razão. Isso é coisa de quem amava algodão doce, daqueles que vendiam na praia naqueles sacos de plástico. Até sua mãe dizer:
- Minha filha, COMO você acha que aquele sujeito fez pra encher aquele saco? COM A BOCA, NÉ!
Nunca mais ela comeu algodão doce.
Amassar a pipoqueira, além de arriscado, é um caminho sem volta. Eu, com certeza, levaria uma bela bronca daquela que me trouxe ao mundo. Quebrar uma média de 6 copos por ano já é demais pra uma mãe. E pra mim também.
Ontem eu tentei inovar, sempre em busca da pipoca perfeita. Coloquei a manteiga antes de estourar o milho. Ficou muito boa, mas a quantidade de manteiga que coloquei superou em 3 vezes aquilo que eu considero ideal pra um coração saudável sofrer num só dia. Não acho que essa seja a fórmula. Também sinto que estou longe de chegar lá. Se eu não colocar óleo, vou colocar o que, água? Bom, pelo menos antes água do que fazer como meu irmão, que não colocou óleo e fabricou um negócio preto. 

domingo, 5 de dezembro de 2010

Um pagodeiro em fúria

Pareceu até um presente dos céus. Sexta fui ao dentista e cheguei cerca de 20 minutos atrasado. Um marco, já que eu não me lembrava de ter ultrapassado 10 minutos. E não foi nem por alguma poça de cimento fresco, foi por não ter vaga mesmo. 
Cheguei e fui pro andar de cima da clínica. Como estava atrasado, tive que esperar uma menina que já tava marcada. A sala de espera tem 2 sofás grandes, desses estilo casa de praia, e um de frente para o outro. Eu sentei na ponta de um deles, já que havia uns 7 ou 8 garotos, acho que entre 9 e 12 anos. Tinham vindo do interior e, provavelmente de tanto esperar, já estavam adotando brincadeiras kamikazes. Um pouco depois de mim, chega um cara meio grande, moreno, vestindo uma regata e uma bermuda, bem ao estilo pagodeiro. Devia ter perto de 30 anos e ouvia música com os fones de ouvido do mp3 player. Tinha também uma tatuagem que, longe eu de ser um especialista no assunto, parecia ter sido feita na prisão.
Eu não sei o que foi que eles fizeram, mas dois dos meninos, que sentavam no outro sofá, tiraram alguma brincadeira entre eles. Apostaram que o cara não iria ver, mas o que se seguiu comprovou que essa juventude atual pode ser bem inconsequente. O cara tirou os fones do ouvido e falou:
- Você tá mexendo comigo? Tá achando graça?
- E-eu? Eu não... Foi ele - e apontou pro do lado (X9 sacana)
- Você tava tirando onda, sim. Se você não fosse pequeno, a gente já teria resolvido isso. Vocês nem me conhecem e vêm mexer comigo, rapaz. Respeitem os mais velhos.
Os meninos não respiravam. O cara tava certo, principalmente na parte de ser uma pena eles serem pequenos. Afinal, eu era o único adulto homem ali, quem você acha que iria ter que separar uma eventual tentativa de homicídio?
O cara continuou:
- CADÊ SUA MÃE?
Eu já tava quase correndo. Na verdade, tava doido pra rir, mas fingi muito bem que jogava no celular. 
- T-tá l-lá embaixo.
Pouco depois, a mãe dos indivíduos sobe.
- A senhora é a mãe desse cidadão? 
- Sou.
- É porque ele nem me conhece e fica tirando gracinhas.
- Mas ele é uma criança.
- É? É de crianças que são feitos os homem (nunca tinha ouvido esse ditado, mas quase aplaudi).
- Pois eu peço desculpas ao senhor.
Nisso o cara foi lá embaixo, o que deu tempo de a mãe perguntar ao filho o que tinha acontecido. Não consegui ouvir, provavelmente porque o garoto mal conseguia respirar, imagine falar. Só que o cara voltou logo e ouviu.
- ESSE DAÍ TIRANDO GRACINHAS COMIGO. EU TO MIJADO? EU TO CAGADO PRA VOCÊ ESTAR RINDO?


Ficou um silêncio, aquela tensão no ar. Do nada, ele tira o fone de ouvido do celular e deixa a música tocando alto. Era um rap daqueles de presídio, mais ou menos assim: "aluno só se cala quando tira uma seta. Quando tira uma seTÁ! É rap violento, pode ameaçar... não sei o que lá do presídio". Entenderam a pequena mensagem subliminar? Os meninos não respiravam.
Pra salvação daquela pequena parcela do futuro da Nação, a atendente do dentista dele chegou e o chamou pra consulta. 
- Tudo bem? - ela perguntou
- Tudo.
Imagine se não estivesse.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Na hora pareceu uma ótima ideia

Provavelmente, com o tempo, eu pensarei em várias outras grandes ideias que já tive nessa louca vida. Afinal, os grandes homens tentam e erram. Faz parte. Acontece que, na hora, você pensa: "poxa, usar um colchão como trenó e descer essa escada da casa de vovó vai ser muito radical". Quando você se move 10 centímetros por hora é que você nota que algumas concepções podem ser falhas.



Comprei um jogo do wii em que há diversas atividades, como ioga, canoagem, boxe, step, corrida. Certo dia, eu tava espirrando e temia que minha corrida pela orla poderia estar comprometida. Como fazemos tudo em nome da boa forma e como eu queria experimentar correr no vídeo-game, resolvi arriscar. Funcionava assim: você liberava um certo espaço em frente à tv. Então, você colocava o controle do wii no bolso e corria sem se mover (?). O sensor captava o balanço do controle e o bonequinho cabeçudo começava a correr. Eu tinha determinado um tempo: 15 minutos, crente que seria pouco e que ainda acrescentaria uns minutos depois. Ledo engano, meus amigos. Esse jogo não simulava em nada uma corrida real. Pra você correr mais rápido, não bastava simplesmente se mexer mais rápido. Era preciso levantar as pernas, só assim o boneco acelerava. Como o controle ficava no bolso de atrás, acho que dançar o rebolation provavelmente teria o mesmo efeito. Eu já corri 50 km em 5 dias e foi tranquilo, mas a dor que senti nas panturrilhas depois de correr nesse negócio foi absurda. Foram uns 3 ou 4 dias de dor. Foi mesmo uma experiência única: nunca mais faço de novo.



Quando meu irmão e eu éramos menores, acho que ele tinha 9 e eu 10 anos, nosso sonho era ganhar uma toca do gugu. Nosso diálogo com minha mãe é que foi digno de condenar um passado. Meu irmão:
- Compre, mãe, ter uma Toca do Gugu é o meu sonho.
- Nosso! - completei.
É, os sonhos tendem a fazer as pessoas falarem frases dramaticamente inesperadas.
Fomos no supermercado e pagamos algo em torno de 80 reais, isso há 13 anos. Em valores de hoje, acho que daria pra uma barraca para 8 pessoas. Só sei que o valor foi alto, prova disso foi que, quando estávamos no estacionamento, colocando as compras (dentre elas, a toca), vi um folheto das Americanas. Falei:
- Olha, mãe, nas Americanas tem a toca do gugu por 69 reais!
- PORRAAAAAAAAA!
Gugu é foda.
Pra falar a verdade, essa toca deveria se chamar toca do tatu, porque, mesmo com 9 anos, ela era muito pequena. Era enfiar só a cabeça, fechar o zíper e dormir.