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domingo, 27 de fevereiro de 2011

Carro quebrado

Esse post quebrará o protocolo e trará fotos ilustrativas reais pela primeira vez. Sexta, fui com os primos The King e Mano pro "Carnaval do Carro Quebrado". É até gozado eu usar apelidos não-identificadores aqui, uma vez que só minha família e amigos leem este blog, mas tudo bem. Esse carnaval começou com os moradores de uma rua, que a fecharam faz uns 10 anos e juntaram uma galera pra ouvir frevo, marchinhas e ilariê (maldita Xuxa). Essa festa continua com uma rua fechada, mas agora evoluiu para contar com minha presença, kkkkk. Tinha um palco e, na outra extremidade da rua, um mini-trio que "daria uma pequena volta", segundo The King.
Fui buscá-los e falei logo:
- Mulher abaixo de 50 anos é pra mim, hein - falou O pegador.
Chegamos umas 20h lá e eu só vi famílias sentadas na porta de suas casas. Tinha mais policiais do que civis. Umas 2 horas depois, a situação melhorou. Não em termos de qualidade, só de quantidade mesmo. Pra você ter uma ideia, esses dois bonecos eram mais bonitos do que muita gente que tava lá:

O Morto-vivo de Cachaça

não me lembro do nome desse

Tá certo que tinha aquele velho elixir pra deixar pessoas mais bonitas: cerveza. Mas eu tava dirigindo. Pelo menos, pude ver pessoas ilustres, como o primeiro habitante do Planeta Terra e Vanderléia:


Vanderléia

A banda que tocava tinha 2 vocalistas, um deles a pessoa mais desafinada que já vi nada vida. Parecia algum maluco que estava passando no meio da rua e alguém teve a brilhante ideia de perguntar se ele não queria cantar para algumas milhares de pessoas. Sua música preferida era a complexa "coelhinho, au au". É, exigir que um cara que vem de um lugar em que coelhos latem saiba cantar é muito mesmo.
Enquanto comprava cerveja, tive a segunda melhor visão que alguém pode ter numa festa de rua: um carrinho de pipoca. Comprei, mas o negócio tinha tanto sal que devo ter formado uma pedra no rim naquela hora. Aquele pipoqueiro é uma ofensa pra toda a classe de pipoqueiros e pra todos os apreciadores dessa iguaria. Devia ter tirado uma foto da cara inconsequente dele.
Essa primeira banda saiu do palco para o mini-trio, pra dar a volta. Segundo meu primo, seria "uma pequena volta", algo em torno de 400m, uma volta no quarteirão. Na prática, andamos mais ou menos 2 km, ou seja, cerca de 20 quarteirões. Foi legal, tirando algumas visões desagradáveis no caminho, como essa:


...que me fez lembrar desse vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=RIBkK5X_3mo


Eu posso estar parecendo bem engraçadinho, mas eu mereço fazer esses comentários, principalmente pelas 7 ou 8 vezes em que tive que limpar meus braços, camisa, rosto e cabelo daquela espuma que guris bastardos compram pra extravasar as prováveis surras que levam em casa. Também tomei um pedala de um dos bonecos de olinda, mas esse foi um gesto de carinho e apreço de um verdadeiro artista.
Antes de o mini-trio completar o percurso, entramos pelo lado em que tava o palco e, pouco tempo depois, começou a banda que toca em 90% das formaturas daqui. Tem uns 15 componentes, sendo 3 vocalistas, um deles com o maior umbigo que já vi. Ele ainda tinha uma proeminente pança, o que fazia o umbigo projetar-se para várias direções. Marcante:



Na volta, passamos pra comer numa lanchonete próxima. Tive a infelicidade de, pretendendo comer um cachorro-quente, escolher um tal de "Passaporte Misto". Tava mais pra escondidinho de salsicha, porque veio num prato de sopa gigante, cheio de batata cobrindo tudo. Comi, mal podendo esperar pela hora em que encontrasse a tal da salsicha (não soou legal...). Quando a vi e a comi (novamente...), parei de comer e, mesmo assim, ainda sobrou fácil 1 kg de batata no prato.
Foi uma experiência legal, mas o pior foi o susto que levei no dia seguinte. Minha mãe viu no meu facebook o status "Carro quebrado com os primos" e veio me acordar, perguntando se eu tinha quebrado o carro. Eu levantei:
- QUEBRADO? EU QUEBREI O CARRO COMO?
- Não sei, eu vi lá no seu msn ou facebook.
- Ah, mãe... ZzzzzZZ.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Um acampamento do barulho


Um dos meus sonhos de criança, além de construir um avião usando muita madeira e uma bicicleta, era acampar. Provavelmente por isso meu irmão e eu fizemos minha mãe comprar a toca do gugu: pequena pra quem vê, menor ainda pra quem enfia a cabeça, pois era só o que cabia nela. Antes de comprar esse indispensável item do manual de sobrevivência, eu organizei um acampamento com meu irmão, um primo e duas primas. 
Graças a uma cabana que eu tinha desde praticamente recém-nascido, como essa, eu utilizava os paus dela pra fazer vários tipos de barraca. Deu pra fazer duas em formato de triângulo, que formavam uma barraca só quando unidas com duas vassouras. Mais ou menos assim:


nem me esforcei pra desenhar, caramba.

O acampamento seria na sexta à noite (claro) e, durante a tarde desse mesmo dia fizemos uma série de testes de resistência com as barracas. Aliás, me enganei, foi só um teste, que consistia em colocar um ventilador na velocidade máxima apontando em todos os lados da barraca. Isso supostamente seria pra simular, com a maior precisão possível, os fortes ventos que costumam assolar nossa cidade. Também chamados de inexistentes. Se bem que houve um vendaval de 75 km/h faz um ano e eu consegui não perceber porque tava com a janela fechada, estudando. Não noto ciclones, mas baratas voadoras entram fácil aqui. 
Separamos biscoitos, água, salsichas em lata, espetos de churrasco, papel e fósforos pra fazer a fogueira, lençóis e travesseiros. O acampamento seria no quintal de minha avó, logo abaixo do escritório do meu avô, que fica no fundo, no primeiro andar. Enquanto arrumávamos e montávamos as barracas, minhas primas ficavam assistindo Maria do Bairro, que era uma febre naquela época. Sendo completamente honesto, todos nós assistíamos, então a montagem foi bem lenta.


Falando em lentidão, meu irmão devia ter problemas. Ele ficou cuspindo água em todos os  cantos do pátio, enquanto ria muito. Tive que expulsá-lo. Acho que ele forçou a própria expulsão pra ver filmes violentos na HBO. Com 9 anos.
Superado esse pequeno encalço com o qual compartilho meu DNA, fizemos rapidamente uma fogueira de papel, que também se mostrou rápida porque papel queima e apaga em alguns segundos. Esse foi o tempo que tivemos pra assar as salsichas. Meu primo disse que tavam deliciosas, mas não posso falar o mesmo porque derrubei a minha no papel queimado, bem na hora de comer. O gosto não ficou exatamente um sonho. A fogueira foi rápida, mas não o suficiente pra passar despercebida de meu avô, que soltou um célebre "QUE FOGO É ESSE AÍ?". 
Entramos nas barracas pra dormir. Logo no começo, minha prima falou:
- Hum, que friozinho gostoso.
5 minutos depois:
- Meu Deus, que CALORRRRRR! - e tirou a blusa por baixo do lençol.
10 minutos depois, tava só de calcinha. Eu estava do lado oposto, na ala masculina da barraca (composta por meu primo e eu), reclamando da palha da vassoura na minha cara. Na barraca montada por mim mesmo. O garoto da vassoura de palha na cara e a menina de calcinha votaram, então tivemos que mudar de moradia. Improvisamos uma barraca melhor no varal, que ficou surpreendentemente muito boa. Lá dentro, não demorou muito pra que todos dormissem, menos eu. Enquanto eu refletia, deitado no chão duro e com a cabeça em apenas um travesseiro, eu percebi por que nunca tinha acampado antes. E que gênio que era meu irmão.

Dedico este post a Cindy, a tolinha que tá ficando velhinha :)

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Nitroglicerina pura

A coisa mais instável e imprevisível que existe neste planeta não é nitroglicerina pura. Não é Lindsay Lohan, muito menos as placas tectônicas do pacífico. São as baratas voadoras. Como só eu tenho a sorte de encontrá-las aqui em casa e como elas escolhem justo o meu quarto, eu não sei. Só não consigo entender como elas entram, já que são quase do tamanho de uma tartaruga gigante. Devem ter a chave da porta da minha varanda, isso faz mais sentido.
Havia tempo que uma delas tinha entrado aqui. De repente, sem nem avisar, vi aquela coisa cascuda e vingativa andando pela parede, perto da janela. Tremi, coloquei uma faixa vermelha de Rambo na testa e joguei a sandália. Como minha péssima pontaria e o nervosismo dessa experiência de quase-morte andam ao lado nessas horas, é claro que eu errei o arremesso. Mas foi bom, a sandália poderia ter partido ao meio se a acertasse. Tirei coragem de algum lugar e, na segunda tentiva, não enviei nenhum representante, fui pessoalmente junto à parede ceifar a vida daquele ser doce e sereno. 

tá louco

Essa foi uma experiência positiva. Recentemente, eu tava vendo TV de madrugada quando um grande ponto preto surgiu no extremo do meu campo de visão. Qual não foi a minha surpresa quando constatei que uma barata voadora, mais ou menos do tamanho de um gato vestido de barata voadora, surgia na quina do teto. Já que eu não tinha nenhum lança-chamas, tive que improvisar jogando a sandália mesmo. Antes, abri a porta, porque haveria a grande chance de eu precisar sair correndo.
Ela mal esperou e veio andando pelo teto na minha direção, ameaçando abrir as asas. Essa conduta suja dela deveria ser proibida em algum tratado que regulamenta guerras. Ignorei a má-fé dela, joguei a sandália e, por incrível que pareça, errei. Meus amigos, eu não desejo a ninguém essa sensação de quem tem a certeza de que uma barata pré-histórica vai voar na sua cara. Tive calafrios e corri como se não houvesse amanhã. Fui pegar uma vassoura mas, quando voltei pro quarto, cadê ela? Procurei e nada. Eu nem tava vendo nenhum filme de suspense, mas a tensão que fiquei foi até pior. Ainda não a encontrei, por isso tenho que viver olhando por cima do ombro no meu próprio quarto. E olhe que ela tem a chave da minha varanda.

Dedico este post a Catarina, pois minha saudade é maior do que essa barata voadora :)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Roberto?

Anos ganhando pontos com os pais te permitem fazer algumas besteiras e não ser acorrentado ao pé da cama. Era 2005, eu ainda tinha a carteira provisória de motorista, mas reinava absoluto sem ter que dividir o carro com meu irmão. Já não dividimos mais faz tempo, principalmente graças a um celular que ele tinha, que evoluiu para um Fusca e para um outro carro bem melhor posteriormente. Eu, por exemplo, só precisei desmaiar pra ganhar um carro zero. História verídica.
O fato é que eu tinha 18 ou 19 anos e estava no auge da estupidez que só essa idade pode proporcionar. Ainda continuo estúpido. Fui com uma amiga para uma festa na casa de uns amigos. Antes, passamos no supermercado e compramos vodca, pingo d'ouro, refrigerante e um twix (glicose para depois, o tolo aqui pensou). Eu comecei a beber nessa época, portanto bastava muito pouco pra me deixar pronto pra ficar nu. Na verdade, até hoje basta pouco, já que não bebo muito, mas não sou de revelar meus segredos.
Chegamos à festa, coisa de 15 pessoas, no máximo. Bebi alguns copos de guaraná com vodca. Pensei que o nome hi-fi servisse pra qualquer vodca que tivesse refrigerante, mas acabei de constatar que não. Que descoberta. Comi o pingo d'ouro antes, pra tapear a fome. Provavelmente eu só adquiri uma pedra no rim de tanto sal que tem nesse negócio, mas acho que valeu. 
Começamos a jogar um jogo simples, porém mortal: todos faziam um círculo e você "assumia" o nome de quem tava à sua direita, e assim seguia. Se Fernanda estava à sua direita, você passaria a se chamar Fernanda e teria que falar "quem não bebe é Fernanda, quem bebe é fulano". Acho que só tinha duas maneiras de errar: falando seu próprio nome ou dizendo "quem bebe é Fernanda". Eu, na prática, percebi que havia uma terceira e surreal maneira de você errar.


tá bêbado(a)?

Eu já tinha bebido 2 ou 3 copos de vodca com guaraná e tinha virado algumas tampinhas de vodca (altamente selvagem o jogo), portanto meu raciocínio tinha começado a ficar comprometido. Quem estava à minha direita era Pardal, que eu acho que tem esse nome por ser quase da altura dos pardais de trânsito. Eu só tinha que falar "quem não bebe é Pardal, quem bebe é fulano". No entanto, minha consciência disse: "fale 'quem não bebe é Pardal, quem bebe é o primeiro nome que vier à cabeça, MENOS Pardal' ". Eu cumpri as ordens e falei:
- Quem não bebe é Pardal, quem bebe é Roberto.
Todo mundo parou.
- Hã?
- Hã?
- Roberto?!
Não havia nenhum Roberto e nenhum Roberto havia passado por ali. Na verdade, o único Roberto que eu conheço nunca foi chamado por esse nome, então podemos concluir que eu vacilei. Coloquei as mãos na cabeça quase que instantaneamente.
- Merrrrrda!
E mais uma tampinha de vodca na conta. Fui deitar pra tirar um cochilo. Numa festa. Às 3h da manhã. Minha amiga acordou e aí eu peguei o meu twix, como se fosse o espinafre do Popeye, iria me deixar como novo. No primeiro pedaço eu tava: "muito doce, não dá, quem foi que comprou isso?". 
Minha amiga pediu a chave do carro e eu nem hesitei em dar. Ainda perguntei:
- Eu vou com você?
- Vai, sim.
Isso no meu carro. E até hoje há um pequeno grupo de pessoas que só me conhecem como Roberto. Foi uma boa festa.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Diabo's


Adoro comprar pão. Tanto quanto eu adoro calças coloridas e filmes dublados. Se antes, adolescente, eu já odiava comprar esse mantimento abençoado que é o pão nosso de cada dia, nos dias atuais eu atingi um novo estágio. Prefiro imaginar a padaria em que vou (a única num raio de uns 4 km, veja você) como uma filial do inferno. Na verdade, eu não me surpreenderia se ela se chamasse "Diabo's" e se o próprio capeta amasse os pães, porque ali deve ser o lugar mais quente da minha cidade. E o dono, com sua visão empreendedora e vanguardista, só mantém uma porta aberta, é um gênio.
Também tenho notado que eu sempre vejo pelo menos uma pessoa de tatuagem quando vou lá. Não que isso indique que são marginais ou coisa do tipo, mas um velho, uma coroa e um cara, no mesmo dia, é uma estranha coincidência. Não fosse o fato de a padaria ser a filial do inferno, eu não estaria pensando, nesse momento, que talvez essas pessoas trocaram suas almas por pães frescos diariamente com o dono do estabelecimento, El diablo.
Mas pior não é o fato de você ter que ir comprar o pão às 18:40, no horário mais movimentado, com fome e com calor. Não. O pior é quando você é contemplado com uma atendente que tem perda de memória recente. Ela, a 60 cm de mim:
- Próximo!
- Quero 4 pães de leite e 5 de sal.
- O quê?
- Quero 4 pães de leite e 5 de sal.
- O quê?
- Me veja um carneiro assado (Né não, repeti o "4 pães de leite e 5 de sal").
Pelo menos ela só precisava de algumas vezes pra memorizar. O pior é uma nova que você fala que quer os 4 de leite e 5 de sal e ela coloca 3 de leite e 4 de batata. Também fui eu o sorteado no dia em que, simultaneamente e com ela, acabaram as etiquetas de códigos de barras e a tinta da caneta pra anotar o preço. Foram deliciosos 20 minutos no inferno.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Sacaneio

Meu pai teve uma copiadora por alguns anos, o que me rendeu algum dinheiro e diversos diálogos estranhos. Tipo esse:
- Bom dia, vocês tiram cópia? (pergunta comum, mesmo com o nome COPIADORA estampado lá fora)
- Tiramos, sim.
- E vocês SACANEIAM?
- ... Você diz SCANEIAM?
- É, ISSO!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A arte de pechinchar

Vamos supor que pechinchar seja uma arte. Estabelecido isso, eu seria a Vanuza da pechincha. Ou então o Léo Santana. Consegui o recorde de economizar um real em um dia de compras na 25 de março. Sim, UM REAL. No paraíso das muambas e falsificações, onde coreanos compram mercadorias por 3 reais e as revendem por 20, consegui essa proeza. Fui comprar uma camisa e pensei: "é hora de mostrar o que eu sei". O mesmo que nada.
- Quanto é a camisa?
O coreano:
- 18 leais.
- Faz por 15?
- Non.
- Faz por 16?
- Non.
- Faz por 17?
- Faço.
- Obrigado.
Na verdade, eu fico com medo de que eles vão perder a margem de lucro. Ou que vou causar a perda de parte do sustento dos filhos deles. Ou que vou falar um preço tão absurdo que vão puxar um facão e ceifar minha vida ali mesmo. Tem gente que morre por menos. 
Meu irmão domina essa arte. Ele entra na lojinha do coleano e pergunta quanto é. O coleano, lendo um jornal, diz que é 25. Ele fala que paga 15. O coleano se faz de ofendido, ainda olhando pro jornal. Meu irmão então diz que só paga 20, aí tira a nota e balança na frente do carinha. O coleano vende por 18. É quase como uma dança.
Não seria provável que minhas técnicas não funcionassem em terras longíquas. Por isso, viajei dezenas de milhares de quilômetros até China Town, em Nova Iorque, na Terra do Tio Sam. Comprei umas 30 camisas típicas de "I LOVE NY". Cheguei na coleana e perguntei se não dava pra baixar o preço. Ela
- Non, non, assim vou me plejudicar, né? Vê só:
Digitou lá uns números na calculadora e falou que aquele seria o lucro dela em cada camisa. Olhei e vi uma dízima periódica. Sacanagem, contra dízimas periódicas não há argumentos.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Que burro, dá zero pra ele!

Por incrível que pareça, eu já fui professor. Não, não é incrível, eu tenho muito a ensinar mesmo nessa vida. Eu tinha 19 anos e fui dar aulas de reforço de português pra cerca de 12 alunos de 5ª série de um colégio particular em que a grande maioria dos meus primos (eu, inclusive) estudaram. No primeiro dia, uma menina gordinha:
- Professor, seu nome é Gustavo, Felipe ou Tiago.
- É Tiago, mas como você sabe?
- Ah, porque sempre quem é branquinho assim e de cabelo liso tem um desses nomes
A menina é quem deveria dar aula. E isso era realmente o que ela pensava, já que ela chegou a perguntar se eu não queria que ela me ensinasse a dar aula. Não respondi nada, não queria ser o sortudo a conhecer um desses alunos que vez ou outra vêm armados pra escola. Ela também bagunçou meu cabelo uma vez. Altamente psicopata.
Um dos meninos tinha o cabelo bagunçado e usava óculos, era um embrião de intelectual. Na verdade, faltava algum parafuso na cabeça dele, porque sua reação quando falei que quem se levantasse iria sair da sala foi, no mínimo, kamikaze:
- Professor, o Senhor falou que vai tirar da sala quem se levantar?
- É.
Então olha isso aqui. Aí levantou e sentou, levantou e sentou, levantou e sentou. Eu, didaticamente:
- Você tem problemas, meu filho?
Como o método ameaça aparentemente não surtiu efeito, adotei o método suborno. Quem não perdesse os 10 pontos com os quais todos começavam, ganhava chicletes. Funcionou, mas tive que chegar com os bolsos cheios de big-big na aula seguinte. Acho que eles só não quebraram tudo na aula anterior porque eu joguei adedonha com eles. Os grandes mestres ensinam na prática.
Tinha também um menino muito parecido com Cirilo, do clássico Carrossel. 


Ele era tão ou mais kamikaze que o nerdzinho. Falei que ia tirar ponto dele porque ele tava conversando. Ele falou que foi porque o tinham chamado de "picolé de asfalto", por isso ele xingou o menino. Eu não quis saber e fui tirar o ponto. Quando ia riscar, ele segurou a caneta. O debate foi sadio e inteligente. Ameacei:
- Oooooolhe!
- Oooooolhe! - ele me imitou.
- Oooooolhe - eu continuei
- Oooooolhe - ele me imitou e riu.
Eu ri também e não deu em nada. 
Acabei não embarcando nesse carrossel por muito tempo. Ah, um dos alunos se chamava "Hadolf". Isso mesmo, de Adolf Hitler. Acho que não preciso falar mais nada.