Páginas

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Diabo's


Adoro comprar pão. Tanto quanto eu adoro calças coloridas e filmes dublados. Se antes, adolescente, eu já odiava comprar esse mantimento abençoado que é o pão nosso de cada dia, nos dias atuais eu atingi um novo estágio. Prefiro imaginar a padaria em que vou (a única num raio de uns 4 km, veja você) como uma filial do inferno. Na verdade, eu não me surpreenderia se ela se chamasse "Diabo's" e se o próprio capeta amasse os pães, porque ali deve ser o lugar mais quente da minha cidade. E o dono, com sua visão empreendedora e vanguardista, só mantém uma porta aberta, é um gênio.
Também tenho notado que eu sempre vejo pelo menos uma pessoa de tatuagem quando vou lá. Não que isso indique que são marginais ou coisa do tipo, mas um velho, uma coroa e um cara, no mesmo dia, é uma estranha coincidência. Não fosse o fato de a padaria ser a filial do inferno, eu não estaria pensando, nesse momento, que talvez essas pessoas trocaram suas almas por pães frescos diariamente com o dono do estabelecimento, El diablo.
Mas pior não é o fato de você ter que ir comprar o pão às 18:40, no horário mais movimentado, com fome e com calor. Não. O pior é quando você é contemplado com uma atendente que tem perda de memória recente. Ela, a 60 cm de mim:
- Próximo!
- Quero 4 pães de leite e 5 de sal.
- O quê?
- Quero 4 pães de leite e 5 de sal.
- O quê?
- Me veja um carneiro assado (Né não, repeti o "4 pães de leite e 5 de sal").
Pelo menos ela só precisava de algumas vezes pra memorizar. O pior é uma nova que você fala que quer os 4 de leite e 5 de sal e ela coloca 3 de leite e 4 de batata. Também fui eu o sorteado no dia em que, simultaneamente e com ela, acabaram as etiquetas de códigos de barras e a tinta da caneta pra anotar o preço. Foram deliciosos 20 minutos no inferno.

Nenhum comentário: