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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O Dia Mundial da Vergonha

Dia 15 de outubro de 2004, eu tava no terceiro ano do ensino médio. Não sei por que, mas, uma semana antes, tive a brilhante ideia de topar fazer um poema em homenagem aos professores, já que o dia deles estava chegando e haveria uma homenagem. Acho que o fato de o pedido ter vindo de uma garota loira e de olhos azuis, que era segundo ano, ajudou um pouco. Quando ela me chamou lá fora, durante a aula, até esqueci que fazer um poema para os professores era gay pra cacete.


Acabei conseguindo escrever algo e tinha levado pro colégio. O dia estava indo bem, até que a coordenadora aparece no meio da aula para um breve anúncio:
- Hoje, no intervalo, haverá uma homenagem aos professores. Quero que vocês desçam pra dar uma força pro pessoal do 2º ano.
Qualquer motivo era excelente pra não ficar naquela sala, no intervalo, enquanto nerds discutiam ácidos e bases. Até ela acrescentar:
- Ah, e também para prestigiar nosso amigo Tiago Benitez, que escreveu algo para os professores.
Se aquele tivesse sido o dia em que eu estivesse conhecendo meus colegas, eu teria olhado para os dois lados, procurando por esse tal de Tiago. Mas, como nem tudo na vida são balas 7 belo, a única opção foi tentar não explodir de tanta vergonha. Literalmente, porque eu sinto uma ardência forte no rosto em momentos assim. Arrisco até a dizer que fico vermelho.
Como eu não tinha nenhuma briga marcada para aquele dia, desci com minha gangue até o pátio. Só que, ao chegar lá, o lugar tava lotado. Lotado não, tinha gente pendurada nos portões, brotando do chão, caravanas vindo de outros colégios. Ok, não tinha caravanas, mas tinha umas 300 pessoas fácil ali. Até tinham arrumado os bancos como se fosse uma arquibancada.
Fiquei bem atrás da fileira de bancos, a uma distância média do palco. Só que foi por pouco tempo. A menina que apresentava pegou o microfone e falou:
- Vou recitar esse poema que Tiago Benitez, do 3º C, fez. Eu queria chamar Tiago aqui pro palco.
Pensei: "pra que, minha filha? é um poema, não é uma coreografia". Mas falei:
- Não, valeu.
Infelizmente, meus amiguinhos me empurraram lá pra frente. Colocaram uma cadeira em frente ao palco, no canto direito. Sentei lá, para os mais longos 3 minutos da minha vida. No final, não sei por que, mas a galera foi à loucura.
- AEEEEEEEEEEEEEEEEEE!!
- TI-A-GÔ! TI-A-GÔ!
- TENHA FILHOS COMIGO! (posso ter exagerado, mas só nessa parte)
Eu só conseguia olhar de relance pro povo, e a única coisa que fiz foi um sinal de paz e amor (?). Quando fui me sentar, só levei tapinhas na cabeça de amigos e conhecidos.
- É  o Bilac! 
- É o Drummond!
Passei umas 5 ou 6 semanas sendo chamado de "poeteiro". Muito original. Imagine se tivesse rolado coreografia.

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