Um dos meus sonhos de criança, além de construir um avião usando muita madeira e uma bicicleta, era acampar. Provavelmente por isso meu irmão e eu fizemos minha mãe comprar a toca do gugu: pequena pra quem vê, menor ainda pra quem enfia a cabeça, pois era só o que cabia nela. Antes de comprar esse indispensável item do manual de sobrevivência, eu organizei um acampamento com meu irmão, um primo e duas primas.
Graças a uma cabana que eu tinha desde praticamente recém-nascido, como essa, eu utilizava os paus dela pra fazer vários tipos de barraca. Deu pra fazer duas em formato de triângulo, que formavam uma barraca só quando unidas com duas vassouras. Mais ou menos assim:
nem me esforcei pra desenhar, caramba.
O acampamento seria na sexta à noite (claro) e, durante a tarde desse mesmo dia fizemos uma série de testes de resistência com as barracas. Aliás, me enganei, foi só um teste, que consistia em colocar um ventilador na velocidade máxima apontando em todos os lados da barraca. Isso supostamente seria pra simular, com a maior precisão possível, os fortes ventos que costumam assolar nossa cidade. Também chamados de inexistentes. Se bem que houve um vendaval de 75 km/h faz um ano e eu consegui não perceber porque tava com a janela fechada, estudando. Não noto ciclones, mas baratas voadoras entram fácil aqui.
Separamos biscoitos, água, salsichas em lata, espetos de churrasco, papel e fósforos pra fazer a fogueira, lençóis e travesseiros. O acampamento seria no quintal de minha avó, logo abaixo do escritório do meu avô, que fica no fundo, no primeiro andar. Enquanto arrumávamos e montávamos as barracas, minhas primas ficavam assistindo Maria do Bairro, que era uma febre naquela época. Sendo completamente honesto, todos nós assistíamos, então a montagem foi bem lenta.
Falando em lentidão, meu irmão devia ter problemas. Ele ficou cuspindo água em todos os cantos do pátio, enquanto ria muito. Tive que expulsá-lo. Acho que ele forçou a própria expulsão pra ver filmes violentos na HBO. Com 9 anos.
Superado esse pequeno encalço com o qual compartilho meu DNA, fizemos rapidamente uma fogueira de papel, que também se mostrou rápida porque papel queima e apaga em alguns segundos. Esse foi o tempo que tivemos pra assar as salsichas. Meu primo disse que tavam deliciosas, mas não posso falar o mesmo porque derrubei a minha no papel queimado, bem na hora de comer. O gosto não ficou exatamente um sonho. A fogueira foi rápida, mas não o suficiente pra passar despercebida de meu avô, que soltou um célebre "QUE FOGO É ESSE AÍ?".
Entramos nas barracas pra dormir. Logo no começo, minha prima falou:
- Hum, que friozinho gostoso.
5 minutos depois:
- Meu Deus, que CALORRRRRR! - e tirou a blusa por baixo do lençol.
10 minutos depois, tava só de calcinha. Eu estava do lado oposto, na ala masculina da barraca (composta por meu primo e eu), reclamando da palha da vassoura na minha cara. Na barraca montada por mim mesmo. O garoto da vassoura de palha na cara e a menina de calcinha votaram, então tivemos que mudar de moradia. Improvisamos uma barraca melhor no varal, que ficou surpreendentemente muito boa. Lá dentro, não demorou muito pra que todos dormissem, menos eu. Enquanto eu refletia, deitado no chão duro e com a cabeça em apenas um travesseiro, eu percebi por que nunca tinha acampado antes. E que gênio que era meu irmão.
Dedico este post a Cindy, a tolinha que tá ficando velhinha :)
4 comentários:
todo mundo ganha dedicatória é meu Advogado?
ACAMPAMENTO é desejo soberano de qualquer molecada marota. Atire o primeiro Trakinas aquele que cruzas os braços, faz cara de furunco e diz que não é verdade.
Eu fazia (ou ainda faço) parte desta classe de armações ilimitadas (leia-se "vamos fazer merda custe o que custar"). Minha mania era criar 1 linda mistura: a brincanagem de camping ETC + fundação de 1 clube fodalhão chamado APOCALIPSE. Pintei até de tinta guache para impressionar quem passava por perto. Acendia velas, colocava pilhas de jornais no chão e mobiliava o empreendimento com caixas de feira.
Objetivo final: criar bonequinhos estilo Cavaleiros do Zodíaco com os seguintes materiais ---> 1) PALITOS DE FÓSFORO 2) ALUMÍNIO LACRE DO NESCAU 3) TESOURA SEM PONTA (este último foi mencionado apenas por segurança).
Foram grandes obras feitas e nenhuma calcinha de prima vista.
Tô me acabando de ri lendo e relembrando essa história!
Todo mundo nada, desentrose Gustavo. Essa é pra galera que nasceu nos anos 80. Beijos!
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