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terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Um pequeno passo para um homem...

Um dos sonhos mais comuns de criança é se tornar um astronauta. Comigo não foi diferente e eu adquiri algumas boas horas interestelares deitado numa pequena cadeira de madeira, enfiada dentro de uma caixa grande no chão. Esse era meu traje espacial, e meu destino - a lua - também podia ser conhecido como a garagem de costura da casa dos meus avós. Da mesma forma que o espaço, esse lugar reservava seus mistérios, como brinquedos que surgiam e desapareciam do nada, berços desmontados e bonecas sem braços. 

O tempo se passou, e outros interesses foram surgindo. Vieram o sonho de me tornar jogador de futebol, depois o sonho que eu comprava na padaria torcendo pra não ter goiabada dentro e outros próprios de cada fase da vida. Mas, o fascínio e o interesse por pelo menos experimentar a sensação de estar fora do planeta permaneciam. Algo diferente de como ficamos nas aulas de matemática ou química, se foi nisso que você pensou.

E a oportunidade pareceu ter se materializado em 2016, na primeira viagem com a minha namorada, musa e futura mãe dos meus filhos, pessoa a quem eu nomearia um planeta e  por quem até começaria uma guerra. Creio que depois dessa discreta apresentação, sem qualquer influência causada pelo receio de desagradar a amada, posso prosseguir.

Estávamos em um dos parques da Disney, o Epcot, projetado para permitir uma volta ao mundo, contendo pavilhões de diversos países e atrações futuristas. Uma delas era chamada de Mission Space. Ela tem por finalidade simular a força gravitacional experimentada pelos astronautas no lançamento de um foguete e conta com duas versões: a verde, mais leve, e a laranja, mais pesada. 

Logicamente, devido à minha extensa experiência espacial e à poeira cósmica inalada da garagem da minha avó, escolhi a laranja. 



Durante o percurso até a "nave", enquanto passávamos por corredores com letreiros coloridos, avisos nas paredes repetiam: "esse brinquedo não é recomendado para gestantes, portadores de epilepsia, claustrofobia, pessoas com labirintite e outros". Não sei se era a Torre de Comando ou apenas uma voz de alerta dentro da minha cabeça, mas algo sussurrava: tem algo estranho aí, camarada.

A estrela da morte atração funcionava basicamente assim: havia quatro cápsulas, cada uma com quatro assentos e um painel de controle na frente, cheio de botões. Durante a decolagem de alguns minutos, cada integrante da cápsula tinha uma função (engenheiro, piloto e por aí vai), apertando seu botão na hora correta. 

Entramos finalmente na cápsula e cada um se sentou na sua cadeira. Eu já me via comprando sonhos em alguma padaria lunar, até que eu puxei, vindo acima do assento, uma trava enorme pra que ficássemos bem presos. Exatamente assim:

extraterrestres contratados para iludir humanos 
a pensar que crianças vão tranquilamente nessa máquina mortal

Quando o negócio travou, meu amigo... não sobrou um centímetro pra eu respirar. A partir desse momento, a guerra havia começado. Eu agora travava uma luta pela minha sobrevivência, sem conseguir respirar e gastando meu inglês:

- I WANNA GET OUT!! 

Tradução livre:
- SALVE MINHA VIDA PELO AMOR DE DEUS, MICKEY!

E aí, aparentemente, eu comecei a apertar um botão com um certo desespero. Um botão fictício do brinquedo, na esperança de me ejetar desse desespero. Felizmente, nessas horas, pude contar com uma companheira compreensiva e que imediatamente entendeu meu sofrimento. Assim reagiu minha parceira:




Devo ser justo e acrescentar que ela, enquanto dava gargalhadas, me ajudou a chamar uma funcionária do brinquedo a fim de me tirar dali. Uma astronauta completa, atuando com leveza mesmo diante de momentos de tensão. Libertado das garras do assento, eu, aliviado, prontamente me restabeleci e deixei a aeronave calmamente:


E foi assim minha descoberta: com um pequeno passo para um homem, dei um grande salto para a claustrofobia.

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Um curandeiro improvável

Há coisas que acontecem com a gente que parecem um daqueles sonhos sem pé, nem cabeça. Tipo dobrar lençóis de elástico ou sorteios de IPhone pelo Facebook. Comigo, mesmo depois de dezenas de acontecimentos bizarros excêntricos, o repertório dessa eterna brincalhona chamada vida parece infinito. A vantagem é que a quantidade de histórias aumenta, alimentando este blog, me enriquecendo e me lançando rumo ao estrelato. Perdão, sonhei de leve agora.

Enquanto esperava pra fazer um exame, aproveitava meu tempo pra viver loucamente: estudando. E eu não estava só. Uma entidade independente e de personalidade forte e explosiva me acompanhava: meu nariz, com o modo "rinite alérgica" ativado.

Infelizmente - para mim e para o meu nariz -, um senhor de óculos assistia à minha batalha entre espirros e páginas lidas. Até falar:

- É o ar-condicionado, né?

- Não, é porque tenho rinite, aí é toda hora assim - respondi.

Ele, então, sugeriu:

- Experimente fechar as mãos assim e soprar ar quente.

Minha reação:



...e fiz mesmo assim. Ser educado e desesperado é uma combinação perigosa.

Não satisfeito, ele acrescentou:

- Licença aqui... - e começou a apertar, com as pontas dos dedos, os ossos do rosto ao lado das narinas, fazendo movimentos circulares - e certamente não bem-vindos.

O improvável curandeiro acrescentou:

- Melhora, desobstrui!

Mas, ele não era apenas um curandeiro improvável, era obstinado. E veio com seu melhor método de cura, falando devagar e pausadamente:


- Feche os olhos e inspire...

Vou nada fechar os olhos. Pois fechei.

E ele continuou:

- Imagine que você está num local cheio de fumaça, gigante. Há um cheiro de perfume gostoso e muita poeira, muita. Veja a poeira, você está dentro de um carro, seguro... há um silêncio... e você mal consegue enxergar... dá uma sensação ruim, né?

Claro que dá. Em nenhum momento ele falou que eu podia respirar, eu já tava tonto sem ar. 


Se bem que desmaiar assim parece melhor que espirrar.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Navegar é preciso (O BLOG VOLTOU!)

"Navegar é preciso". Há 1 ano e meio, comprei um barco a vela e, na minha visão, também a prerrogativa de usar metáforas náuticas e frases de efeito. É isso mesmo: muita água vai rolar.

Há muitos anos eu sonhava em velejar, sentindo o suave barulho do vento em meu rosto e o deslizar do barco - como a cumprir seu destino - sobre a água. 

O que pareceu faltar no pacote foi alguém me avisar sobre os erros que aprender um novo esporte implica. Aparentemente - e é o que supostamente aconteceu -, na prática, esse aprendizado envolveu xingamentos por parte deste que vos escreve, como: "essa merda tá quebrada", "qual é o problema que não passo dessa maldita ponte?" e "vou vender essa porcaria amanhã, tá é quebrado".

Mas, um homem obstinado a ter sucesso em sua nova empreitada é como a poética chinelada de uma mãe: ninguém pode parar. Pois no final eu triunfei, mas algumas das provações pelas quais passei se tornaram cicatrizes, e eu jamais as esquecerei.

Uma delas ocorreu em julho de 2017. Fazia cerca de 3 meses que eu não velejava, já que, a partir de abril, o vento fica fraco e a necessidade de resgate de um tolo sonhador passa a ser quase uma certeza. Portanto, a sede por uma velejada era enorme.





Olhei a previsão de ventos por um aplicativo no celular e vi ventos de 12 nós, com rajadas de mais de 16 nós. Isso dá rajadas de 30 km/h, o que é suficiente pra muitos prejuízos, como pude perceber.

O que ninguém também me avisou é que vento forte é bastante diferente de vento-pré-tempestade-em-mês-de-chuvas (preciso começar uma lista das coisas sobre tudo o que deveriam ter me avisado). 

Desavisado e ansiando por velejar, chamei meu companheiro de aventuras, O Mestre dos Sonhos, O Homem do "ótimo": meu irmãozinho. Dirigimos pouco mais de 20 km até a marina e passei a montar o barco. 

Tempo nublado e ninguém na água, saímos rumo ao desconhecido. Nossa sede por uma ventania e por mais uma bela paisagem a ser contemplada foram combustível de dois jovens e tolos que mal sabiam o que estava por vir. Se existisse um Deus dos Ventos, ele teria gritado pra não irmos a lugar algum. Como essa entidade também estava dentre as quais eu xinguei, seu silêncio é compreensível.

- Vai mergulhar hoje? - perguntei a Diogo.


- Rapaz, nem sei, to com preguiça.

Pois os dois mergulharam. Ao mesmo tempo e sem qualquer possibilidade de escolha: pegamos um banco de areia e viramos.




- Chega, cuidado com a mochila, desvira, desvira!

Conseguimos desvirar e passamos a retornar para a marina, depois de alguns quilômetros rio adentro. Como essa parte do rio é muito próxima do mar, as correntes de ar por ali são bem fortes, especialmente quando o céu está preto e chove há 2 semanas (teriam sido sinais?).

Conversávamos animadamente sobre velejar e todas as dificuldades mundanas, quando Diogo anuncia: DE NOVO, NÃO!
Sim, irmãozinho, de novo, sim. E viramos novamente.

Acontece, com os veleiros, uma coisa curiosa - pra quem está em terra e seguro - quando eles viram. Se você rapidamente não desvirar o barco, subindo na bolina (uma peça de madeira enfiada no centro da embarcação, afundada na água pra mantê-la no rumo), ele pode virar de cabeça pra baixo, o chamado "tartarugar". E aí, meu amigo, ferrou.

Pois tartarugamos bonito. O mastro ficou preso no fundo e não conseguíamos desvirar o veleiro. Tive que escolher: segurar o mastro ou deixar o pé do meu chinelo ir embora, como Leonardo DiCaprio em Titanic. Escolhi o mastro e me despedi do querido chinelo azul.

Até então, eu só levava minhas coisas numa mochila comum, como celular, carregador portátil e chave do carro. Quando tombamos, parece que dei início a um choroso lamento, muito parecido com o canto de uma sereia:

- Meu celular, meu celular, perdi meu celular...





Meu herói irmão rapidamente mergulhou, me fazendo pensar:

- VAI, IRMÃO!

Mas dizendo:
- Recupere, por favor, por favor.

Ele retorna:
- Consegui, peguei a mochila!




Meu Deus do céu. Nem se tivéssemos descoberto um continente acidentalmente, com toda a fama e a entrada permanente nos livros de história, eu teria ficado mais feliz.

Coloquei a mochila em cima do barco, enquanto dois pescadores (chamaremos de Fernando Pessoa e Luís de Camões, já que não perguntamos seus nomes) nos ajudavam.

Eu não conseguia desprender o topo do mastro do fundo do rio. Enquanto tentava, Diogo mergulhou pra recuperar sua câmera, que estava presa numa ventosa, enquanto os pescadores e eu aguardávamos.

10 segundos. 20 segundos. 30 segundos. 40 segundos.

Pensei: ou meu irmão tem um fôlego muito maior do que imaginei ou posso ter perdido mais do que um pé de chinelo.

Virei para os pescadores:


- Vocês não acham que ele está demorando não?
50 segundos e ele emerge, teatralmente, da água:
- Consegui!
- Você demorou, já tava quase desesperado - eu estava completamente desesperado.
- É que eu vi num filme que forma uma bolha de ar no barco em que dá pra respirar.

Os pescadores passaram a nos puxar para um banco de areia, pra que esperássemos o resgate. Mergulhei pra ficar longe da corda e não me machucar. E perdi meus óculos escuros. No final, perdi também o carregador de celular, um mastro que quebrou e uma âncora. Ganhei experiência, mas sinto que essa conta terminou negativa.

Agradecemos aos nossos salvadores e esperamos pelo resgate, que estava a 5 minutos dali, mas que demorou uns 50 pra chegar. Parece que esse pessoal não sabe nada sobre navegar. Não tenho paciência para gente assim.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Polícia e ladrão

São demais os perigos dessa vida. Eu esperava só precisar usar essa impactante frase no começo de uma redação de vestibular (em que tirei 9,0, por sinal, hehehehe). Mas a vida é uma brincalhona e, quando você mora num bairro sem leis, o jeito é aprender alguma arte marcial pelo youtube e escolher uma arma mais letal do que um grampeador. Tudo ficção, não fiz nada disso.
Eu estava, agora há pouco, falando com minha mãe pelo celular, pronto pra pedir um burger king, quando ouço gritos:
- SAIA DA MINHA CASA! SAIA DA MINHA CASA!


Como prostitutas não costumam atender em domicílio por aqui, abri a janela lateral e não vi nada. Com a experiência de anos de Law & Order e Loucademia de Polícia e a astúcia de um Lince, concluí: um furto qualificado em execução no condomínio ao lado. Desci correndo - ainda falando com minha genitora - e, com a coragem que Chamas da Vingança me deu, abri a porta. Apareci e não foi a mais bonita que sorriu pra mim. Foi o ladrão que estava fugindo de bicicleta mesmo. Achei que fosse alguma outra pessoa passando e virei pra olhar pra casa de onde vinham os gritos. 
É um condomínio com 4 apartamentos, 2 em cima e 2 embaixo. O maluco provavelmente tinha colocado o pé no vão do meu portão e pulado pra lá. E escolhido justamente a casa de um policial militar pra cometer seu fato típico. Eles começaram uma luta corporal. O policial jogou ele da escada e atirou uma cadeira. O elemento jogou um anão de jardim nele. Quando o policial entrou pra pegar a arma, o cara tentou fugir aparentemente pulando pra minha casa.
Pouco depois de o ladrão sair de bicicleta, o policial saiu com a arma na mão. Quando ele volta, eu pergunto o que tinha acontecido. Ele:
- Ele pulou pra sua casa! - e foi pegar o carro pra procurar.
Amigo... essas palavras mexeram comigo mais do que "quer petit gateau?". Eu tava sozinho em casa e a porta da varanda eava aberta. Saí correndo, peguei um pau e fui fechar a porta. Subi pra tentar ver lá da varanda, mas não vi nada. Tinha esquecido de acender a luz. Cadê meu treinamento nessas horas...

Durante todo esse tempo, minha mãe gritava perguntando se era aqui. Quando falei que parecia que ele tinha pulado pra cá, ela ligou pra meu tio, que mora ao lado também e em 30 segundos ele tava aqui com meu primo. Meu irmão, que tava a 4 km, chegou quase ao mesmo tempo. Sem brincadeira. 
Colhemos informações e vimos que ele não tinha pulado pra cá, do contrário teria sido complicado digitar com sangue nas minhas mãos. E ainda bem que ele viu que eu não percebi que o ladrão era ele. Vai que ele volta pra uma "queima de arquivo" e eu tenho que entrar no Programa de Proteção à Testemunha e preciso deixar crescer um bigode, mudar meu nome pra Alfredo Torres e ir morar em algum pequeno Condado de um Estado remoto? 
Agora foi que percebi, deixei de comer burger king por causa marginal. To irado.


PS: dedico este post a The King, tão ou mais destemido do que este que vos escreve.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Gente estranha

Esse post poderia muito bem dar um blog inteiro, especialmente se você parece ter uma cara de "ei, estranho, fale comigo na rua". Só que não percorrerei essa linha de raciocínio porque, na verdade, há muito mais gente estranha em salas de aula do que nas ruas. Não, isso tá errado. Há gente estranha em todo lugar. Nas redes sociais, nos shoppings e até digitando neste exato momento. Prefiro pensar que há dois tipos de gente estranha: aqueles que atropelam cimento duas vezes e aqueles que eu nem sei como começar a descrever.
Falei rede social porque teve uma menina que me adicionou uma vez no orkut e no msn, mas faz muito tempo. Tanto tempo que ela fez outro orkut ou sei lá e me adicionou de novo. No orkut e no msn. Minha memória não é tão mal, então eu tava ligado. Eu só me irritei foi com esse pequeno diálogo depois que ela me adicionou novamente no msn:
- Oi, tudo bem? - falei.
- Tudo.
TUDO!! Sem "e você?". Fui adicionar pra ser educado, mas depois dessa eu bloqueei e excluí. Sou assim mau, porém educado.
Na faculdade, é perfeitamente normal você pegar uma matéria só com uma pessoa e nunca  mais vê-la na vida. Eu estava no último período e tinha aula de Direito do Consumidor uma vez por semana. Tinha esse cara com o cabelo despenteado, com umas entradas na cabeça e que usava óculos. Ele também tinha um olhar perdido (eufemismo pra louco fumando pilha) e não cheirava nada, mas nada bem. Um amigo falou que ele era podre e eu não acreditei. Até que eu passei do lado dele e quase caí que acreditei. Ainda posso sentir seu odor à noite, mais de 1 ano depois.
Como desde os tempos do colégio, eu só sentava no fundo. Estava lá lendo uma matéria que não tinha a ver com a daquele momento e o excêntrico colega estava duas cadeiras ao lado. Deu pra ver, de relance, que ele tava olhando pra capa do meu livro. Pensei: "ah, deve estar querendo saber qual é". Só que ele passou 2 minutos encarando. Pensei: "ah, deve estar decorando o autor". Quando não consegui ler uma linha devido àquela psicopata intervenção, concluí: "esse cara é retardado".
Você pode estar pensando que sou da Polícia do Não Olhe pro Meu Livro Mimimi, mas um outro acontecimento, somado ao seu odor de quem passou 20 dias dormindo e acordou num mundo apocalíptico, me permitiu chegar a tal conclusão. Ele repetia a mesma palavra 3 vezes. Era mais ou menos assim: o professor estava falando sobre determinado assunto:
- Essa conduta é ilegal porque o consumidor é...
- Hipossuficiente. Hipossuficiente. Hipossuficiente.


- ... - professor pensando "quem é esse engraçadinho?". Se ele tivesse cheirado o garoto, a conclusão teria sido a mesma que a minha.
Aparentemente, ele também sabia inglês. O professor:
- Eu não sei bem, acho que "verbo 'to be', né?"
- Verbo to be. Verbo to be. Verbo to be.
O professor parou, como quem não sabe mais como continuar na vida. E o estranho é que umas 10 pessoas olhavam pra trás, riam e o cara ficava sério. Mas não um sério do tipo irônico, era um sério como quem acha normal repetir a mesma palavra 3 vezes. Foi o último fato irrefutável.
Antes, bem no começo da faculdade, eu tinha conhecido alguém que podia ser o primo dele. Não me lembro do nome, mas só sei que ele falava com o ar-condicionado. Literalmente. Como o ar ficava no fundo da sala e ele também sentava no fundo, uma vez eu o vi olhando pra cima e cochichando. Pensei que ele pudesse ser um espião, mas tive minha prova numa outra aula. 
- fhhfdsjf - ele falou.
- Hã?
- Não, eu tava falando sozinho.
- Ah - um "ah" carregado de "que cara maluco".
Minha teoria é a de que, como a aula tinha sido num auditório e o ar-condicionado tava longe, ele tinha falado algo do tipo "sinto sua falta". 
Quando eu estagiava, fui fazer um lanche com uns amigos do estágio numa lanchonete do Centro. Paguei, mas ficaram faltando 25 centavos. Pessoas normais, como eu fiz, dizem:
- Po, na próxima eu pago, pode ser?
Mas não foi isso que se passou. Quem estava no caixa era um cara que tinha jeito de quem era o dono da empresa, que falou:
- Me dê seu telefone.
E o pior foi que eu dei. Ele não me ligou até hoje, provavelmente porque percebeu que só o custo da ligação seria maior que a própria dívida. Retardado. Se bem que eu dei meu celular...

domingo, 8 de maio de 2011

Todo dia é dia das mães

Sempre tem alguém pra lançar essa original frase, que serve pra qualquer época. No entanto, confesso ser ela muito melhor do que aquelas que dizem algo do tipo "isso é só um feriado comercial criado pra estimular o consumo e o comércio". Geralmente (sempre) vêm de pessoas politicamente corretas (chatas). E quebradas também. 
Minha mãe é muito legal, uma pena que o mundo traiçoeiro lá fora me estragou. Meu único alento é que o meu nome foi dado por meu pai. Eu passei muito perto de me chamar Ian, minha nossa. Emplaquei meu carro ano passado e adivinhe como começava a placa? Minha mãe me chamou lá de baixo, do pé da escada:
- Você viu a placa do seu carro? Hahahaha
- Vi
- Tá vendo? Fiz bruxaria 23 anos depois.
É o que todo filho espera ouvir.
Devo reconhecer que foi mais agradável do que os sustos que eu costumo tomar durante a madrugada. Minha mãe tem alguns superpoderes, como andar no escuro. Sério, ela anda por cômodos, abre gavetas e pega o que quiser. Mas, quando ela resolve fazer isso às 2h da manhã e usando um pijama BRANCO, alguns corações tendem a acelerar. Estou bebendo água na área de serviço quando ela aparece do meu lado. Aparece não, se materializa.
- Tiago.
- PUTAQUEPARIUMINHAMÃE, VOCÊ QUER ME MATAR, É?
- Eu, hein.
Eu mal consigo andar sem me bater com tudo aceso, imagine no escuro. Uma vez eu tava deitado na cama, espirrando, quando ela surge no pé da minha cama.
- Quer um lenço?
- UAAAAAAI.
Literalmente caí pra trás. 
Ela também é forte pra caramba. Só Zeus sabe (essa foi boa kkkk) como ela consegue mudar sozinha toda a disposição de armários, móveis e cama no meu quarto enquanto eu passo meras 3 horas fora fazendo alguma prova. Na verdade, os superpoderes dela vão bem além do que simplesmente deslizar no escuro ou mudar móveis de sei-lá-quantos-quilos do lugar. Passam inclusive por saber antes mesmo do que eu pra qual curso eu queria prestar vestibular. De saber só pela minha voz que problema eu tenho. Prefiro pensar que ela me acha engraçado também:
- Você sempre tem uma piadinha, né?
Devo ter, não sei. Só sei que tenho a sorte de tê-la como mãe. Até hoje eu detesto o filme "Ghost, do outro lado da vida", porque a primeira vez em que eu o vi eu devia ter uns 7 ou 8 anos. Eu fiquei inconformado com isso de viver outras vidas. Não entendia nem queria viver num mundo ou uma vida em que eu não conhecesse minha mãe.
Feliz Dia das Mães, garotinhos.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Pede pra sair!


Enquanto esperava meu irmão na casa de minha avó e lia uma interessantíssima notícia sobre uma mulher que fez uma orgia com três mendigos de madrugada e no meio de uma avenida grande de Aracaju enquanto seu marido olhava, ouvi uns xingamentos sem saber da onde vinham. Se você não acredita:


Ainda melhor que isso é essa parte:

"Contemplados com o manjar sexual caído assim, do nada, ou pela  tara de uma fulana em transe, eles se comportam com mais felicidade do que uma ninhada de pintos no lixo". Chamem Drummond!

Voltando aos xingamentos ao longe, vi que a discussão era na porta. Na rua de minha avó há esse legendário lavador de carros cujo singelo apelido é "Sabão". Meus avós moram ali tem bem uns 40 anos e eu acho que ele chegou lá primeiro. Ele é tranquilo, só que costuma guardar vagas para os servidores que trabalham no órgão público em frente. Por isso, não é legal você ser forçado a estacionar numa rua perpendicular e tomar uma multa de R$ 80,00 por estacionar onde você sabia que não podia (essa é minha vida, esse é o meu clube). Ele discutia com um cara baixinho de camisa listrada, que devia ter uns 26, 27 anos. Parece que o alterado cidadão tinha colocado o carro na porta do órgão. Quando ele colocou numa vaga mais atrás, sem obstruir passagem alguma, sabão falou que ele tava guardando aquele lugar. Isso despertou a ira do motorista:
- Seu merda, seu pau no cu - o motorista falou.
- Eu tô te marcando.
- TÁ ME MARCANDO, É? - com aquele sorriso maroto, do tipo "eu só quero é ser feliz e andar tranquilamente na favela onde eu nasci".
- É, essa semana toda você vem fazendo isso, você tá marcado. Se continuar colocando eu vou riscar seu carro - Sabão escorregou nessa.
- AH É? AH É?
- É.
- POIS VOCÊ QUER RESOLVER ISSO AGORA? - retrucou o motorista, no auge dos seus 14 anos, enquanto colocava suas coisas em cima de um carro qualquer, pronto pro fatality.
Só que ele estava com dois amigos e uma mulher. Além disso, tinha ligado pro cunhado, que é do Grupo de Choque da Polícia Militar. No EXATO momento em que ele colocou as coisas em cima do carro, apareceram 4 motos com uns policiais todos de preto. Nada espero, né? O amigo fez sinal pra parem e eu quase "pedi pra sair". Achei que fossem Faca na Caveira, sei lá. 


Um dos policiais passou o sabão em Sabão, enquanto o motorista ria ironicamente e se explicava. Durou cerca de 7 minutos, até que o motorista e o resto da Liga da Justiça foram, relutantemente, embora. Com trânsito e mendigos nus não se brinca, crianças. 

PS: Dedico este post a Lara, que simplesmente deu a ideia desse post antes mesmo de eu pensar nisso. Sim, este blog atrai as gatinhas.

domingo, 24 de abril de 2011

Quer andar de carro velho?

É, meus fãs e também pessoas que leem este blog, após protestos com garotas peladas nas ruas, cartas ameaçadoras escritas com sangue e peixes podres colocados em cima do capô do meu carro, volto a atualizar este poço de cultura. Este verdadeiro compêndio de inexoráveis lições de vida.
Minha história remonta ao ano passado, quando estava saindo com uma amiguinha. Ela me mandou mensagem perguntando se eu tava a fim de sair e pouco depois da meia-noite passou aqui pra me pegar. Mulher que dirige é legal, especialmente se não é daquelas que ficam na esquerda a 20 km/h. 
Depois de comer, paramos o carro num estacionamento grande e iluminado cuja descrição vai se limitar a isso em nome do amor que tenho à vida e à minha integridade física. Paramos, basicamente, para conversar sobre coisas banais, como o sentido da vida e a migração do dolo e da culpa da culpabilidade para o fato típico com o advento da Teoria Finalista da Ação. Quem dormiu com essa última frase, provoque uma cãimbra que ainda falta um pouco pra eu terminar.
Então. Como fazia (esse tempo verbal foi inapropriado pro lugar em que moro) calor, ela deixou a ignição do carro acionada pra poder ligar o ventilador. Ao mesmo tempo em que o som também tava ligado. Como eu estava entretido na conversa, não percebi. E, pelo visto, a tecnologia veicular do nosso mundo não é tão evoluída assim. Porque depois de cerca de 1 hora e meia, a bateria arriou, veja você. Pelo menos, fui sensato, sincero e otimista quando ela tentou dar a partida e não conseguiu, às 3:30 da manhã:
- Merda, a gente tá ferrado. A GENTE TÁ FERRADO!
- Calma hahaha.
- A gente tá ferradooooo, a gente vai morreeeeeer!
Por sorte, meus conhecimentos vão muito além de atropelar poças de cimento fresco, então eu decidi empurrar. Falei pra ela deixar a segunda marcha engatada e tentar arrancar quando eu gritasse. Empurrei uma, duas vezes e nada. Na terceira, não sei por que milagre, o carro pegou. Ela ficou tão empolgada que saiu gritando "UHUUUU" e, por um momento, achei que fosse me deixar lá. Ela voltou pra me buscar, mas deixou o carro morrer. Aí, meus amigos, eu quase morri também. Empurrei mais uma, duas, três, quatro vezes e nada. Tava mais cansado do que fico depois de correr 6 km. Por isso, eu tive que tomar a última decisão que queria: ligar pro meu irmão. 
O dia tava quase amanhecendo quando ele apareceu. A bateria tava tão morta que foram precisos uns 10 minutos de chupeta (dele, claro) pra pegar de novo. Enquanto descansava, algo pior do que o carro morrer às 3:30 da manhã num lugar deserto passou pela minha cabeça: meu irmão espalhar pra toda a família meu feito.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Tudo o que há de bom nessa vida

Oi galerinha animadinha que lê meu humildezinho blog. Adoro falar palavras no diminutivo, demonstra que sou uma pessoa extrovertida e "up", sabe? Também adoro estrangeirismos, acho muito válido paulatinamente substituir essa língua horrível que é a língua portuguesa. Fernando Pessoa que se dane, aquele analfabeto. Hoje é um dia especial. Tão especial que dei um pause na minha listinha de músicas com Justin Bieber e Britney Spears só pra digitar esse post.
Começo confessando que estou muito triste porque o big brother acabou essa semana. Poxa. Me amarro nesse clima de descontração, mistério, intrigas e azaração que cercam o programa, sabe? Acho um experimento sociológico profundo e interessantíssimo. Minhas partes preferidas eram quando Pedro Bial recitava seus belos poemas e quando todos se reuniam pra gritar "a-há, u-hu, o big brother é nosso".
Mas, não dá mais pra chorar pelo leite derramado. São aguas passadas e cavalo dado não se olha os dentes porque quem tem farinha no olho em terra cego dos outros é refresco. Acho sempre pertinente e criativo inserir um ditado popular. Demonstra que você é criativo, sabe? 
Não só ditados são legais, mas expressões como "ninguém merece" são sempre muito bem recebidas pelos meus ouvidos. Adoro pessoas que encerram as frases com "beijosmeliga" ou o meu preferido: "ficaadica". Que pessoas mais descontraídas! 
Por falar em ouvidos, vou interromper um pouco meu raciocínio pra fazer algo que é um must todo dia: dançar aquele velho e bom pagode. Não falo daquela porcaria chamada Cartola ou coisa do tipo, e sim O Rodo da Bahia, Psirico e Guig Guetto. Só a nata da música. Não há sensação melhor do que vestir aquela camisa regata colada, pegar sua nega e ir curti um pagode no posto de gasolina. É claro que não vou no domingo porque é dia de Faustão. Não dá pra perder.
Mas nem só de Faustão é feita a boa televisão. Adoro essas tramas interessantíssimas das novelas da Globo. Elas nunca se repetem, meu! Meus momentos preferidos são aqueles barulhos adoráveis que eles fazem quando estão em alguma refeição. Tão legal que isso, só as pessoas comentando sobre novelas. Mesmo que boa parte das pessoas não assistam, acho tão altruísta da parte delas nos deixar por dentro. Viva!
Falando em novelas, sempre fico vendo o Ego, na globo.com. Não consigo me concentrar em nada do meu dia antes de saber se Luana Piovani está causando (atóron essa expressão também) ou se aquela atriz da novela das 6 "exibiu um corpão na praia" (ctrl c + ctrl v). Acho uma parte essencial do jornalismo e dou muito valor a todos aqueles que trabalham nela.
Novelas até me fizeram lembrar de algo, um pouco menos interessante. Futebol. Dou muito valor aos torcedores do São Paulo. Acho eles tão apaixonados e sempre apoiando o time não importa se ganha ou se perde. Não só vão pro estádio quando faltam tipo 3 jogos para o time ser campeão. O mais legal de tudo é que não invejam o Corinthians. Outra viva para torcida tão máscula!
Devo mencionar também sobre o orkut. Como aquilo mudou pra melhor, é incrível. Não quero deletar minha conta nunca. Não sei como viveria sem pessoas que não te conhecem e te adicionam sem deixar recado. É tão misterioso. Acho muito artísticas fotos de garotas em cima de muros velhos e nomes com @, &, *, estrelas e outros símbolos. Nem reparo também quando tropeçam no português. Porque vamos combinar, né? É tão difícil saber se o certo é "conheçer" ou "conhecer" ou se o infinitivo termina com R. Não acho que os 15 anos na escola são suficientes. Sinceramente.
Difícil também é dirigir por essas ruas. Poxa, é tão confuso saber se o carro que vai te ultrapassar vem pela direita ou pela esquerda. Simpatizo com essas pessoas que ficam tão na dúvida que andam a 20 km/h na esquerda. E não é sempre que dá pra gente olhar pra frente e, AO MESMO TEMPO, mexer naquela alavanca que fica do lado esquerdo do volante. 
Agora, tenho que ir porque detesto dormir tarde. Já passou da meia-noite e, por sinal, que dia é hoje mesmo? 

quinta-feira, 24 de março de 2011

Fama, riqueza e um guia milionário

Um dia você tá em casa comendo passatempo recheado e, no outro, você está passeando por museus nos quais nunca entrou. Isso numa cidade histórica a 20 minutos da sua. Você pensa que tem os contatos nesse mundo, mas, quando uma francesa amiga sua que está na sua cidade só faz 2 dias descola um motorista particular pra levar vocês onde vocês quiserem, é hora de rever seus conceitos. A patroa do motorista, que a francesa nunca viu na vida, é de uma família rica do Estado e essa é a única dica que posso dar. Vi uns adesivos no carro, um deles semelhante a uma faca na caveira. 
Às 8:40 eu recebo uma ligação. Era Alfred, O motorista. Mentira, era parecido:
- Meu jovem, sou Edson e vou levar vocês em  São Cristóvão. Que horas vocês querem ir?
- Umas 9:40, por favor.
9:40 o cara tava aqui em casa num carro preto. Percebi que o dinheiro poderia abundar quando ele falou:
- Desculpem aí pela sujeira, esse é o carro que vai pra fazenda.
Ou seja, havia outros carros? Quando vi que tinha um rádio amador no carro e os adesivos no pára-brisas, procurei por armas. Claro que não vi, já que minha busca se limitou a olhar pro freio de mão. Ele também falava uns códigos pelo rádio. Nem assistindo Polícia 24h toda semana eu consegui entender o que ele dizia.
Assim que chegamos, um cara com roupa moreno, com roupa normal, parecido até com um lavador de carros, colou em mim. Logo vi que se tratava de um guia informal. Acho que ninguém decora fatos históricos e datas pra falar por 20 minutos por nada, né? Sei que ele não parava nem pra respirar, pra que eu pudesse mandar o "então, obrigado, vou ali". Eu tava ligado que era guia, mas só achei que fosse alguém simpático e remunerado, sei lá, pela UNESCO, mas não por mim.



Entramos numa igreja e depois no museu, e ele na porta. Em cada lugar tinha um guia e eu devo externar algo que notei. Esses guias têm excelentes vozes pra curar insônia. Bem melhores do que leilões de joias. No piso superior tivemos que literalmente calçar pantufas por causa do piso de madeira. Se tivesse uma cama histórica lá, eu teria virado história.
Depois fomos em outra igreja, a maior da pequena cidade. Andando sob um sol de meio-dia e com o guia-não-solicitado no nosso encalço. Entramos na igreja e tinha uma guia oficial também lá. Essa era jovem e, não sei se por causa da hora, as informações dela eram mais sucintas. Todos os outros guias citavam datas aproximadas, falavam sobre o estilo barroco e até contavam algumas curiosidades. Essa era objetiva:
- Aquelas imagens são por causa de uma festa que temos aqui, é a segunda maior do Nordeste. A primeira é de um outro lugar aí.
Seu conhecimento sobre as imagens dos santos era esclarecedor:
- Aquele é Santo Antônio. Aquele é São Francisco. Aquela é Nossa Senhora.
- Obrigado.
Eu tinha esquecido os óculos escuros e já não enxergava nada de tanto sair de igrejas escuras pro sol de meio-dia. Tínhamos entrado no carro e já estávamos indo embora com Alfred, quando o guia aparece ao lado do carro. 
- É, queria pedir uma pequena contribuição.
- Ah, só temos 5 reais, não temos nada trocado assim.
- Queria pedir uma contribuição de 20 reais.
- Ah, só temos 5 mesmo, desculpa.
- Deixa pra lá - que malcriado.
20 REAIS? E ainda dispensou 5 reais? Como advogado, eu ia logo argumentar que foi por um serviço não solicitado. Mas tinha fome e meu caviar tava derretendo. Pedi a Alfred que seguisse em frente. Não tenho paciência com esses mortais.

domingo, 13 de março de 2011

Atalaia, cidade proibida

Depois de duas décadas morando em apartamento, soltando pipa no ventilador, jogando bolinha de gude em tapete e sendo criado a pão com manteiga e açúcar, me mudei pra uma casa. Lá no apartamento eu extingui uma colônia inteira de cupins, literalmente matando um a um a duros golpes de sandália. No entanto, isso não se compara à selva de agora. Quando me mudei pra cá, logo no primeiro dia, fui tirar um cochilo. Só que não consegui, porque ouvia uns zumbidos altos. "Que abelhas gigantes são essas?" eu pensei. Acontece que eram os karts no kartódramo aqui perto.
Há um tempo, eu estava vendo tv lá embaixo, na sala, quando vi um bicho preto e meio cascudo, um pouco maior que uma daquelas formigas grandes. Meu instinto assassino e aniquilador (isso é óbvio) me levou à única atitude possível: matá-lo. Pisei nele e, para a minha surpresa, o bicho deu um salto de uns 20 centímetros. Para a minha surpresa não, para um susto do caralho. Palavrões são a melhor forma de expressar o contato com um bicho imortal. Eu pisei outras 15 vezes - em todas elas gritando "VOCÊ NÃO MORRE NÃO, É?" - e ele simplesmente não morria. A única pessoa que conheço com essa mesma resistência se chama Denzel Washington. Ao invés de adotá-lo como um semelhante, acho que tirei sua vida na décima sexta pisada.




No entanto, nada se compara às formigas, daquelas pequenas. Esqueça tudo o que você aprendeu sobre elas desde criança, nada disso se aplica aqui. Minha mãe tem colocado o pote do açúcar dentro de uma vasilha cheia de água, o que, em lugares normais, espantaria esses pequenos insetos. Só que, enquanto eu comia sozinho, eu testemunhei algo que, nos tempos de Cristo, já seria considerado um milagre: as formigas andam sobre a água. Eu posso parecer ligeiramente exagerado de vez em quando, mas isso realmente aconteceu. Minha mãe, é claro, não acreditou em mim, praticamente dizendo que eu estava defecando pela boca. Até que ela também testemunhou. E aí, ela resolveu colocar cravo na água, mas quem disse que adiantou? Temo colocar ácido sulfúrico e elas trazerem a cerveja pra começar uma festa.





Mas eu já me acostumei a comer uma formiguinha aqui no pão, outra ali no leite e uma de brinde no biscoito. Devo comer umas 40 por mês. No final do semestre isso deve equivaler a engolir uma barata. Talvez eu esteja delirando, mas posso jurar que umas 3 delas sobreviveram a 3 minutos na temperatura "Alta" no micro-ondas. E tem gente que vem dizer que as baratas é que sobreviveriam a um ataque nuclear. É tanta formiga que eu sinto verdadeira felicidade quando vejo lagartixas. Lagartixas são amigas.
Se dentro de casa é cada um por si, imagine lá fora, nas ruas. Uma vez eu estava voltando da padaria (sempre eu, que revolta) quando vi dois negões sem camisa e carregando  facões virando a esquina. Tava ligado e já ia abrindo a porta quando meu pai e meu irmão também vêm chegando de carro. Meu pai:
- ENTRA, ENTRA!
Não sei por que tanto alarde, vai ver eles tavam indo cortar cocos, só que tinham esquecido dos cocos. Acho que a boa-fé se presume.




Aqui também tem muitas dessas mulheres que trocam seu corpo por dinheiro. Um pessimista chamaria de prostitutas. Um otimista diria que são mulheres que estão esperando pelo ônibus na esquina errada. Tem também homens que pensam que são mulheres. Ou que tentam fazer com que outros homens pensem que eles são mulheres. Um pessimista veria que são travestis. Um otimista diria que foi enganado e iria, pouco tempo depois, jogar com a camisa 9 do meu time.
Uma profissional do sexo magrela, descabelada, usando um shortinho e fumando um cigarro tava andando pela rua enquanto eu passava de carro. Ela só encarando, afinal, é a profissão dela. Quando passei, ela mandou o "psiu" mais morto e desmotivado que já vi. Ela não era meu tipo mesmo, então pra que se incomodar, né? 

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Carro quebrado

Esse post quebrará o protocolo e trará fotos ilustrativas reais pela primeira vez. Sexta, fui com os primos The King e Mano pro "Carnaval do Carro Quebrado". É até gozado eu usar apelidos não-identificadores aqui, uma vez que só minha família e amigos leem este blog, mas tudo bem. Esse carnaval começou com os moradores de uma rua, que a fecharam faz uns 10 anos e juntaram uma galera pra ouvir frevo, marchinhas e ilariê (maldita Xuxa). Essa festa continua com uma rua fechada, mas agora evoluiu para contar com minha presença, kkkkk. Tinha um palco e, na outra extremidade da rua, um mini-trio que "daria uma pequena volta", segundo The King.
Fui buscá-los e falei logo:
- Mulher abaixo de 50 anos é pra mim, hein - falou O pegador.
Chegamos umas 20h lá e eu só vi famílias sentadas na porta de suas casas. Tinha mais policiais do que civis. Umas 2 horas depois, a situação melhorou. Não em termos de qualidade, só de quantidade mesmo. Pra você ter uma ideia, esses dois bonecos eram mais bonitos do que muita gente que tava lá:

O Morto-vivo de Cachaça

não me lembro do nome desse

Tá certo que tinha aquele velho elixir pra deixar pessoas mais bonitas: cerveza. Mas eu tava dirigindo. Pelo menos, pude ver pessoas ilustres, como o primeiro habitante do Planeta Terra e Vanderléia:


Vanderléia

A banda que tocava tinha 2 vocalistas, um deles a pessoa mais desafinada que já vi nada vida. Parecia algum maluco que estava passando no meio da rua e alguém teve a brilhante ideia de perguntar se ele não queria cantar para algumas milhares de pessoas. Sua música preferida era a complexa "coelhinho, au au". É, exigir que um cara que vem de um lugar em que coelhos latem saiba cantar é muito mesmo.
Enquanto comprava cerveja, tive a segunda melhor visão que alguém pode ter numa festa de rua: um carrinho de pipoca. Comprei, mas o negócio tinha tanto sal que devo ter formado uma pedra no rim naquela hora. Aquele pipoqueiro é uma ofensa pra toda a classe de pipoqueiros e pra todos os apreciadores dessa iguaria. Devia ter tirado uma foto da cara inconsequente dele.
Essa primeira banda saiu do palco para o mini-trio, pra dar a volta. Segundo meu primo, seria "uma pequena volta", algo em torno de 400m, uma volta no quarteirão. Na prática, andamos mais ou menos 2 km, ou seja, cerca de 20 quarteirões. Foi legal, tirando algumas visões desagradáveis no caminho, como essa:


...que me fez lembrar desse vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=RIBkK5X_3mo


Eu posso estar parecendo bem engraçadinho, mas eu mereço fazer esses comentários, principalmente pelas 7 ou 8 vezes em que tive que limpar meus braços, camisa, rosto e cabelo daquela espuma que guris bastardos compram pra extravasar as prováveis surras que levam em casa. Também tomei um pedala de um dos bonecos de olinda, mas esse foi um gesto de carinho e apreço de um verdadeiro artista.
Antes de o mini-trio completar o percurso, entramos pelo lado em que tava o palco e, pouco tempo depois, começou a banda que toca em 90% das formaturas daqui. Tem uns 15 componentes, sendo 3 vocalistas, um deles com o maior umbigo que já vi. Ele ainda tinha uma proeminente pança, o que fazia o umbigo projetar-se para várias direções. Marcante:



Na volta, passamos pra comer numa lanchonete próxima. Tive a infelicidade de, pretendendo comer um cachorro-quente, escolher um tal de "Passaporte Misto". Tava mais pra escondidinho de salsicha, porque veio num prato de sopa gigante, cheio de batata cobrindo tudo. Comi, mal podendo esperar pela hora em que encontrasse a tal da salsicha (não soou legal...). Quando a vi e a comi (novamente...), parei de comer e, mesmo assim, ainda sobrou fácil 1 kg de batata no prato.
Foi uma experiência legal, mas o pior foi o susto que levei no dia seguinte. Minha mãe viu no meu facebook o status "Carro quebrado com os primos" e veio me acordar, perguntando se eu tinha quebrado o carro. Eu levantei:
- QUEBRADO? EU QUEBREI O CARRO COMO?
- Não sei, eu vi lá no seu msn ou facebook.
- Ah, mãe... ZzzzzZZ.